A bancada evangélica do Senado iniciou uma mobilização para tentar barrar o projeto de lei que legaliza jogos de azar no Brasil, como cassinos, bingos e o jogo do bicho. Os parlamentares religiosos, contrários à proposta por motivos éticos e morais, pretendem atuar com força no plenário para impedir a votação, que o relator do texto, senador Irajá (PSD-TO), quer realizar ainda neste semestre, com apoio do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP).
“Vamos tentar impedir de todas as formas”, disse o senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Senado, à Coluna do Estadão. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), vice da Frente, reforçou a oposição: “Vamos trabalhar muito contra isso, mas muito mesmo”.
Apesar de Irajá afirmar que já conta com ao menos 41 votos favoráveis — número suficiente para a aprovação — ele admite que o placar ainda não atingiu o patamar considerado seguro pelas lideranças do Senado, que é acima de 50 votos. Essa margem estreita abre espaço para articulações da bancada evangélica com senadores indecisos, na tentativa de reverter apoios e enterrar a proposta.
As negociações devem avançar após o retorno de Alcolumbre da comitiva presidencial que viajou à Rússia e à China com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula já declarou publicamente que sancionará o projeto caso seja aprovado pelo Congresso. O ministro do Turismo, Celso Sabino, também defende a legalização dos jogos e mantém diálogo constante com Irajá para garantir apoio político à medida.
Diante da resistência religiosa, Irajá decidiu não negociar mais com os evangélicos, considerando que a objeção é de princípio. O foco da articulação passou a ser os demais parlamentares da Casa, onde o relator acredita poder consolidar os votos restantes.
A proposta foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado por margem apertada: 14 votos a favor e 12 contrários. O cenário indica que a disputa será acirrada no plenário.
Na Câmara, em 2022, a legalização dos jogos também foi polêmica: venceu por 246 a 202 votos. Na ocasião, o então líder evangélico Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) travou confronto direto com Arthur Lira (PP-AL), favorável à matéria.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado