Por Marco Aurelio Carone

Feriado de finados 02/11, quarta-feira chuvosa. Como de costume leio os principais veículos da imprensa mineira, nacional e internacional, disponibilizados na internet.

As manchetes praticamente se repetiam, abordando os bloqueios nas estradas e a transição do governo Bolsonaro para o de Lula. Quando entro no site da revista Veja deparo-me com uma nota na coluna Radar:

“Lula quer valorizar Pacheco e ‘esforço enorme’ de mineiros”

Na reunião para discutir a estrutura da equipe de transição, Lula ressaltou, em privado, para a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, encarregada pela articulação política, o papel realizado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de seu aliado, o senador Alexandre Silveira, e o do deputado Reginaldo Lopes, no segundo turno das eleições em Minas.

Apesar do esforço do governador Romeu Zema para virar votos em favor de Jair Bolsonaro, ao final da disputa, Lula manteve-se à frente, assim como no primeiro turno.

Lula, ao longo de todo o segundo turno, demonstrou preocupação com relação à atuação de Zema, dos empresários ligados a Bolsonaro e de alguns líderes evangélicos no segundo maior colégio eleitoral do país. Temia que a campanha adversária, impulsionada com milionárias doações na reta final, pudesse virar o jogo no estado e comprometer o resultado das eleições. Ao final, a diferença de pouco mais de 49.000 votos em Minas a seu favor foi vista como uma “grande vitória” pelo petista, assim como nos estados do Nordeste.

O presidente eleito disse que o resultado foi fruto de “grande esforço” das lideranças mineiras. Um dos efeitos imediatos de seu reconhecimento deve ser uma movimentação para assegurar a reeleição de Pacheco à Presidência do Senado. Apesar de não querer se envolver pessoalmente na disputa, Lula reforçou aos aliados que que Pacheco se manteve firme contra o avanço das pautas bolsonaristas no Senado e, por meio de Silveira, evitou uma debandada de prefeitos mineiros para a campanha de Bolsonaro. Além do PT, Lula quer os partidos de seu arco de alianças caminhem com Pacheco no Senado.

Por sua vez, Silveira e Lopes, coordenadores da campanha de Lula em Minas, podem ganhar espaço no primeiro escalão do governo petista. Além de assegurarem a base de Lula em Minas, fariam contraponto ao governador Zema, que tenta herdar o bolsonarismo no estado”.

Por tratar-se de algo que abordava um assunto de tamanho interesse para todos mineiros, li e reli várias vezes a nota, a insistência na releitura deu-se porque achei estranha a informação: “Lula ressaltou, em privado, para a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann”.

Tentava entender o motivo de uma política com a experencia de Gleisi Hoffmann, confidenciar para um jornalista o que o Lula tinha lhe dito no privado. Imediatamente procurei ouvir lideranças e parlamentares do partido, constatando primeiro que a presidente do PT jamais tinha feito tal afirmação, segundo a enorme discrepância entre os fatos atribuídos na noticia ao deputado federal Reginaldo Lopes (PT) e ao senador Alexandre Silveira (PSD) e o ocorrido na campanha de Lula em Minas Gerais.

Diante desta realidade, imediatamente veio a minha mente o Caso Minasgate, ocorrido em 1978, período que os governadores eram escolhidos pelo presidente da república. Nome derivado do famoso caso Watergate, um escândalo político ocorrido em meados de 1972 nos Estados Unidos cujas investigações posteriores culminaram com a renúncia, em agosto de 1974, do presidente Richard Nixon.

O Caso Minasgate hoje é praticamente invisível para maioria das pessoas, pois empoeirado na estante da história, ocorreu quando uma luta era travada entre diversos políticos mineiros pertencentes a Arena, partido do governo militar, para serem o escolhido em 1978 pelo então presidente Geisel para governar Minas Gerais. Disputavam o cargo vários nomes, os mais conhecidos eram, Bias Fortes, Fernando Fagundes Neto e Francelino Pereira.

Na época, predominava massivamente a imprensa impressa, sendo usual as assessorias recortarem nos jornais as principais matérias publicadas, para confeccionar várias copias encaderna-las para disponibilizar para as autoridades, evitando que ficassem por hora lendo todos jornais. Ou seja, a fonte de informação dos ministros ao presidente da república era a denominada sinopse.

Segundo o livro de Sebastião Nery; “Ninguém me contou eu vi”, em março de1978 o assessor de imprensa do ex-ministro da Agricultura Alysson Paulinelli o jornalista Silvestre Gorgulho, entregou-lhe uma mala cheia destas sinopses, informando que se tratava de uma bomba.

Ao confrontar as notícias constantes nas sinopses com as edições originais dos jornais, Estado de Minas e Diário de Minas verificou que em relação a Francelino Pereira, tudo era uma fraude. Notícias como: “Apesar dos catorze disputantes a vaga do governador Aureliano Chaves, o presidente nacional da Arena, deputado Francelino Pereira continua sendo o mais cotado. Até mesmo o MDB já se posicionou a favor do presidente nacional da Arena”.

O anúncio do nome do futuro governador do estado está sendo aguardado para o próximo dia 10 de abril. Até o momento o deputado Francelino Pereira e o mais cotado”, jamais tinham sido publicadas nos jornais.

A revista IstoÉ em matéria de Sebastião Nery estampou em chamada de capa: “Fransinopse- Mentiram para Geisel”, o que causou enorme perplexidade e reação das autoridades federais. Para não perder sua autoridade principalmente porque era um regime militar o presidente Geisel manteve a indicação de Francelino Pereira.

Porém, através de uma investigação o SNI- Serviço Nacional de Informação, descobriu que as modificações teriam sido feitas na Agencia Nacional de Minas Gerais dirigida por Ênio Fonseca e seu principal redator Leopoldo Oliveira, também assessor de Francelino Pereira. Ambos foram demitidos. Com sua matéria Nery ganhou o prêmio Esso regional de 1978.

Para confirmar o narrado por Sebastião Nery, consultei também o repórter Geraldo Elísio, memória viva que presenciou estes fatos, conforme narrado em seu livro: “Bau de Repórter.

Incrível o capricho da história, após 44 anos em fato semelhante, ouvi diversos parlamentares eleitos e lideranças do PT, que sobre a nota afirmam: “Quem conhece o PT mineiro neste grupo inclui-se a presidente Gleisi Hoffmann, sabe que o domínio da direção do partido em Minas Gerais pelo grupo do deputado Reginaldo Lopes é fruto apenas o domínio de diretórios municipais, meramente cartoriais, sem qualquer expressão eleitoral. Ao contrário do noticiado a insatisfação com o comportamento do deputado nas eleições é praticamente unanime.

Caso seja cogitado seu nome para qualquer cargo de destaque no governo Lula, terá a oposição da maioria da bancada federal e da estadual. Sua atuação na campanha para governador e presidente da república em Minas Gerais não existiu, restringiu-se a comparecer aos palanques nos eventos eleitorais principalmente nos que Lula participava. Esteve todo tempo cuidando de sua eleição para deputado federal, além de ter que dar muita explicação em relação a aplicação dos recursos repassados ao diretório estadual pelo diretório nacional.

Existe ainda a dúvida sobre a ida de Reginaldo para São Paulo após o término das apurações se ocorreu em um jatinho fretado. Caso se confirme, como e quem pagou a despesa? “, concluiu. Para estes já e hora de dar um basta nas práticas do deputado Reginaldo Lopes.

Em relação ao apoio à reeleição do senador Rodrigo Pacheco (PSD) para presidência do Senado, também foi unânime a opinião: “o governo Lula nunca interferiu na sucessão da mesa de outros poderes. Sem dizer que Simonet Tebet, maior aliada de Lula no segundo turno foi triturada por Pacheco – em sua pretensão para ocupar o cargo de Presidente do Senado- utilizando o esquema do orçamento secreto de Bolsonaro”. Comportamento idêntico tiveram sobre o possível aproveitamento do atual senador Alexandre Silveira (PSD), “é algo que terá que ser discutido primeiro em seu partido”.

Francelino Pereira membro da Arena, discípulo de Magalhaes Pinto, ambos golpistas de 1964, ter utilizado estes métodos é previsível, certamente que tal premissa, até o momento, não pode imagina-se válida para um parlamentar do PT.