Estamos no meio de uma guerra cultural. Derrotar o governo Bolsonaro foi só uma batalha. O domínio da comunicação é fundamental. Neste quesito, a extrema-direita continua dando as cartas e isso é um grande risco para a estabilidade do governo Lula e para a democracia brasileira.

Se a história do plano criminoso do PCC tem ou não armação de Moro, pouco importa na guerra de narrativas. O que prevalecerá no imaginário popular é a versão mais aderente às crenças e aos interesses do momento. Nesse terreno o bolsonarismo se desloca com êxito e quase sempre deixa os progressistas comendo poeira. Quem tem que correr atrás para tentar explicar, desmentir, responder, gasta muita energia e quase nunca consegue bom resultado. O PT, nitidamente, tem dificuldade de transitar neste pântano, o que não é novidade. A questão é que o governo Lula parece estar replicando a deficiência do partido que o elegeu. De fato, são muitos os problemas, os inimigos e as armadilhas, mas é o que temos para hoje. E, para complicar, Lula parece estar com a intuição política, uma de suas grandes virtudes, um pouco embaçada.

Tudo mostra que está na hora de parar, respirar e traçar estratégias de ação, reação, ataque, recuos e avanços. Tem que raciocinar o tempo todo. Entender os movimentos dos adversários e antecipar seus passos não é tão difícil assim. Eles se repetem. Mas é preciso ter cabeça fria, se libertar das mágoas estonteantes, e manter os olhos no objetivo principal, que é fazer um bom governo e dificultar, ao máximo, o avanço da extrema-direita.

Não dá mais para subestimar o bolsonarismo e a boçalidade de uma parcela dos brasileiros capturados pela direita fundamentalista.

Sem essa de romantizar com crenças do tipo “a esperança vai vencer o medo”. É uma guerra encarniçada. Boas intenções têm muito menos ou nenhuma força diante da hipocrisia, da mentira e da enganação.

Os códigos de construção de significados sociais e políticos foram pervertidos. Narrar fatos já não é suficiente para convencer as pessoas da existência de uma realidade objetiva. Os universos paralelos são mais concretos do que o metaverso novidadeiro, onde não se distinguem as fronteiras entre inúmeras dimensões. A narração e a interpretação da realidade tão cada vez mais fluidas. Óbvio não é mais ululante. A verdade tem inúmeras versões.

Além do domínio das redes digitais pela extrema-direita, a mídia de massa está ativa em seu papel de correia de transmissão de interesses do mercado e de suas interseções com as conveniências programáticas da extrema-direita global. Engano acreditar que algumas negociações pontuais levarão a uma adesão ou a, pelo menos, uma trégua midiática em favor da racionalidade. Usar as mesmas táticas comunicacionais de 10/15 anos atrás é ineficiente. Entender o ambiente de comunicação e se qualificar para a disputa da agenda pública se tornou tarefa muito mais complexa. Não tem receita pronta. Aprender a transitar e dominar os códigos deste novo universo de produção de significados e de afetos parece ser a fronteira entre o fracasso e o sucesso de qualquer projeto político. A extrema direita globalizada já entendeu isso faz tempo.

De Brasília, Helenise Brant


Avatar

administrator

1 Comentário

  • Avatar

    Linda Pedrosa, março 26, 2023 01:53 @ 01:53

    Muito bom e pertinente o texto da jornalista Helenise Brandt. Sim, é preciso racionalizar e usar a energia em bases de inteligência emocional. O ponto mais importante para prevenir o que não queremos de volta (embora pouco menos desejem o contrário), é ter êxito no governo. Essencialmente isto.

Os comentários estão fechados.