Resistente até aqui como único candidato fora da polarização entre Lula e Bolsonaro que consegue manter um percentual razoável de votos, beirando ali os dois dígitos em alguns levantamentos, o pedetista Ciro Gomes tende a enfrentar, de agora em diante, o momento mais desafiador de sua campanha.
Com alguns levantamentos sugerindo que o petista pode vencer a batalha no primeiro turno, a pressão e a certeza de voto dos eleitores do ex-governador do Ceará serão testadas e episódios como os que vimos em Minas Gerais, com Miguel Corrêa e Duda Salabert, devem se tornar mais frequentes. Principalmente pelo fato de que podem ser os ciristas os responsáveis por definir as eleições.
Nesses dois casos que cito, ambos de pré-candidatos do PDT a cargos nas próximas eleições, fica visível que parte daqueles que estão hoje votando em Lula nutrem simpatia suficiente por Lula para fazê-los pular o muro na reta final se enxergarem reais chances de uma derrota de Bolsonaro.
E é o que Ciro tenta evitar a todo custo. Tanto Miguel, que disse que seria uma vitória para Ciro ter Lula no Palácio do Planalto, como Duda Salabert, que fez o ‘L’ com as mãos para eleitores do petista, dizem que continuam votando no governador do Ceará.
Mas se mesmo filiados e pré-candidatos fazem demonstrações públicas de apreço pelo lulismo, o que se pode esperar do comportamento de uma boa parcela dos eleitores que dizem que seus votos ainda não estão totalmente definidos?
A pesquisa Datafolha divulgada na última semana, e outros levantamentos revelados desde então, indicam que Lula pode estar subindo e que o eleitor de Ciro pode sim mudar de lado, sob o velho argumento do voto útil, o mesmo que o pedetista usou em 2018 para manter um percentual relevante de 12% mesmo sob o derretimento dos demais candidatos que se contrapunham à batalha entre Bolsonaro e Fernando Haddad.
Agora, o cenário para Ciro é bem diferente daquele de quatro anos atrás. Como é Lula quem lidera as pesquisas, o pedetista teria que, ao contrário do que fez naquela ocasião, convencer o eleitorado bolsonarista que, para evitar uma vitória do PT, seria melhor migrar para sua candidatura. E esse desafio é complexo por vários motivos. O primeiro é que as pesquisas não indicam que Ciro possa vencer Lula.
O segundo é que, ainda que o pedetista conseguisse trabalhar essa ideia com base em sua rejeição, menor que a de Lula e a de Bolsonaro, parte do eleitor do atual presidente nem acredita nesses levantamentos. O terceiro é que as ideias de país e sobretudo a pauta econômica de Ciro diferem profundamente da de Bolsonaro, colocando-se à esquerda até mesmo da de Lula.
Isso não significa que Ciro vá ser rifado oficialmente pelo PDT e nem que vai retirar sua candidatura. Como também já disse aqui, ele trabalha também com os olhos para 2026. Seus ataques duros e frontais a Lula conversam com a ideia de que ele vai tentar liderar um processo de oposição ao petista se o ex-presidente for eleito.
E, por essa razão, também já disse aqui que não faz muito sentido para Lula e para os petistas redobrarem ataques a Ciro. Quem pode precisar dos votos dele, no primeiro ou no segundo turno, é Lula, e não o contrário. E esse confronto só atrapalharia essa possível migração natural de votos que poderia haver a cada nova pesquisa que reforçar a polarização.