Angela Carrato – jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG
A informação de que o presidente Lula visitará Minas Gerais na próxima quarta e quinta-feiras caiu como uma bomba na cabeça dos viralatas e golpistas mineiros.
A informação foi divulgada pelo deputado federal petista Rogério Correa, pré-candidato do partido à prefeitura de Belo Horizonte.
Ele foi chamado por Lula ao Palácio do Planalto para lhe falar sobre a visita e, claro, dar-lhe a primazia ao divulgá-la.
Pegos de surpresa, a turma bolsonarista apressou-se para encontrar alguma maneira de criticar a visita. Como não tinha nada a dizer, criou nova fake news, desta vez a de que Lula, ao demorar mais de um ano para visitar o estado em seu terceiro mandato, subestima a importância dos mineiros.
A narrativa mentirosa rapidamente ganhou espaço nos moribundos veículos da mídia corporativa local, com direito a ridículos debates entre igualmente ridículos pretensos comentaristas políticos.
Lamentavelmente, esses senhores padecem de amnésia ou mentem descaradamente, com o objetivo de passar pano para Romeu Zema, o governador que afirmou que se o ex-capitão tivesse sido reeleito, “nós teríamos caminhado num sentido melhor”.
Na ocasião, como agora, não ocorreu à mídia mineira, questionar qual teria sido esse caminho.
Agora, claro, finge que tal declaração nunca aconteceu e corre para passar pano para o inepto governador.
Vamos aos fatos.
Lula não veio no ano passado a Minas Gerais, porque sua prioridade era recompor a democracia no país. Ele e sua equipe foram incansáveis ao retornar com importantes programas sociais e criar outros novos.
Lula também esteve ocupadíssimo revertendo as bombas de efeito retardado deixadas pelos golpistas, além de ter derrotado a tentativa de derrubar o governo recém empossado patrocinada pelos bolsonaristas em 8 de janeiro.
Como se isso não bastasse, Lula esteve em diversos países, em vários continentes, para mostrar que aquele Brasil estúpido e fascista, que negava a epidemia de covid-19, não acreditava em vacina, destruía a Amazônia, matava índios, perseguia a comunidade LGBTQIA+, adversários politicos e a imprensa tinha chegado ao fim.
Mesmo com uma agenda de tal magnitude e ainda enfrentando fortes dores no quadril, que o levaram a uma cirurgia, Lula chegou a anunciar que pretendia vir a Minas Gerais no início de setembro do ano passado.
Foi o que bastou para o governador anunciar uma viagem absolutamente sem sentido ao exterior, de 5 a 15 de setembro.
Quem entende um mínimo de política – e tem um mínimo de educação – sabe que a prioridade para qualquer governador é receber o presidente da República.
A viagem de Zema à Itália e à Áustria não tinha importância ou urgência. Na Itália, o que se sabe é que ele vistoriou obras da empresa que venceu a licitação para o Rodoanel na região metropolitana de Belo Horizonte. Vistoria que qualquer técnico poderia ter feito com maior competência. Quando à Áustria, nem me recordo do que ele falou ter feito lá.
Há quem diga que o governador tirou férias não declaradas naquela época. Mas há quem aponte também a coincidência dessa agenda ter envolvido justamente dois países em que a extrema-direita, os fascistas, estão no poder.
Seja como for, aqueles que agora criticam a demora de Lula vir a Minas, deveriam se lembrar da atitude do Eletrozema.
Mas não. São esses mesmos senhores que se apressam em dizer que “obviamente o presidente será muito bem recebido pelo governador” e que “não está descartada nem mesmo a presença dele no desembarque de Lula na capital mineira”.
Será que Zema caiu na real e viu que até o bolsonarista Tarcísio de Fretas, governador de São Paulo, foi um perfeito anfitrião para Lula?
Além de grosso, Zema não tem levado em conta que não há salvação para a dívida de Minas Gerais sem o apoio do governo federal. Por isso, o risco de acabar falando sozinho é grande.
Político experiente e tarimbado, Lula fará em Minas contato direto com as lideranças políticas e com a população.
Iniciará sua viagem na quarta-feira (7/2) por Juiz de Fora, cidade administrada pela petista Margarida Salomão, que deve disputar um novo mandato.
Em Juiz de Fora, Lula anunciará a ampliação do Hospital da Universidade Federal local, referência em toda a zona da Mata, numa solenidade que reunirá muito além da comunidade acadêmica.
No final da tarde, seguirá para Belo Horizonte, onde estão previstos encontros políticos, o anúncio de recursos e obras para a capital mineira e o estado.
A mídia local não se conforma por não ter informações sobre quais são estas obras e os valores.
Está tendo o tratamento que merece.
Lula também irá a Contagem, um dos pólos mineiros, administrada pela petista Marília Campos.
O presidente deixa claro que governa acima de interesses partidários, conversa com todos e sua preocupação é com o bem-estar dos brasileiros e brasileiras, em especial os mais pobres.
Mas se seu estilo de governar é conhecido, não significa que, nas eleições, não irá apoiar os candidatos de seu partido e da base que lhe dá sustentação no Congresso Nacional.
É neste ponto que as eleições municipais em Belo Horizonte se colocam como um desafio para Lula e as próprias forças progressistas locais.
Desde o arranjo entre o governador tucano, Aécio Neves, e o prefeito petista Fernando Pimentel, que deu origem à candidatura de triste memória de Márcio Lacerda, o PT não venceu mais eleição na capital mineira.
É importante lembrar que o PT em Belo Horizonte tem um histórico de excelentes e bem avaliadas gestões, como foram as de Patrus Ananias, Célio de Castro e do próprio Fernando Pimentel.
As razões de Aécio para apoiar Lacerda eram óbvias. Já as de Pimentel nunca ficaram claras.
O certo é que se as forças progressistas quiserem mesmo retomar a Prefeitura de Belo Horizonte e terem uma presença mais significativa na Câmara Municipal, vão ter que se lançar de corpo e alma ao trabalho.
Além de buscarem um nome que tenha maior viabilidade eleitoral e una o campo de centro-esquerda, será preciso muita presença nas ruas e nas redes.
Não é novidade para ninguém que nas eleições municipais, o eleitor menos avisado vota no amigo do bar da esquina, no pastor que promete prosperidade, no dono da ambulância que faz transporte de doentes a precos módicos e por aí vai. Mesmo sendo as que mais diretamente falam aos cidadãos, as eleições municipais são aquelas em que o voto atinge um grau absurdamente elevado de despolitização e clientelismo.
Depois muita gente não sabe porque a cidade inunda com as chuvas no inicio do ano, as epidemias são frequentes e os serviços públicos precários o ano inteiro.
Fazer de Belo Horizonte uma cidade de todos e para todos precisa retornar à agenda política de pré-candidatos, políticos, estudantes, empresários, donas de casa e dos movimentos sociais. De praticamente todos os movimentos sociais.
É um trabalho para já e não apenas nos poucos meses que antecedem à eleição.