O tempo, depois da inauguração do Mineirão. Não me lembro de qual o jogo. A emissora ZYU – 4 – Rádio Cultura de Sete Lagoas. Narração a cargo do Fernando Alves. Comentários José Augusto Faria de Souza. Sem facilidades eletrônicas de hoje. Arrastando cabo conectado ao microfone Geraldo Elísio diante do Rei Pelé. Um mito de verdade, reconhecido pelo mundo.

Até pela FIFA. O craque de todos os tempos. Ele me viu aproximar e sorriu. Alguém o entrevistava. Se não me engano o Paulo Celso, então na Rádio Guarani. Perguntei também o que o momento exigia. Mais uma ou duas entrevistas e devolvi o comando da narração para a cabine central.

O primeiro passo é sempre o primeiro passo. Meus sonhos ganhavam corpo. Muitos perguntaram o que sentia ao entrevistar Pelé. Algumas outras vezes isto voltou a ocorrer. Inclusive em outros estádios. Nunca fui íntimo dele. Tratamentos sempre de respeito de súdito para um mito.

Estava bem perto – naqueles tempos isso era possível – ficar junto das laterais do gramado, quando houve um choque e a fratura da perna de Procópio. O cruzeirense gritou: “Você quebrou minha perna Pele”. O jogador apanhava muito, mas igualmente ele sabia bater.

Outro jogo memorável envolveu a Seleção Brasileira de Futebol. Igualmente no Mineirão jogou contra o Clube Atlético Mineiro sob o comando do técnico Yustrich. Com o João Saldanha dirigindo a Seleção Brasileira de futebol. Vitória para o Galo Mineiro. Dario, o preferido do general Médici, se esbaldou. Gol brasileiro de Pelé. Nunca mais um clube brasileiro voltou a jogar com a Seleção Canarinha.

Mas o Brasil voltou da excursão tricampeã. Outras vezes entrevistei Pelé. Isto integrava o meu cotidiano. Sempre fui bem recebido por ele. De outra vez estava no túnel do Atlético que vencia por dois a um. Faltavam dois minutos para terminar o jogo. O Fernando Alves me pediu uma “matéria sobre a brilhante vitória do Atlético”.

Arrastando cabos cheguei ao túnel atleticano. Pelé empatou o jogo Ainda bem que o auxiliar técnico Zezinho Miguel percebeu antes. Eu escapei.

Foi um tempo depois que li de um cronista francês que se os estádios de futebol tivessem um Deus ele se chamaria Pelé. Não ouvi Pele só pouco. Agradeço o privilégio. Ao vivo conheci o maior craque de todos os tempos, segundo profissionais do mundo.

Pelé foi homem.

Todo homem é mortal.

Logo, Pelé agora é saudade.

E não me cabe julgá-lo mais. Porém vi o maior craque de todos os tempos ao vivo e a cores.

Muito antes do Cosmos. Isto eu posso deixar testemunhado.

Porque me ocorreu isto. Não sei. Talvez uma lição de vida. Craque de futebol nunca poderia ter sido. Obrigado! Não há que reclamar de vê-lo com o vi.

Sinceramente? Creio mesmo ter sido um privilégio!…– (Geraldo Elísio – Repórter e escritor. Ex-narrador esportivo).