Por Geraldo Elísio (Jornalista e poeta)

Eu, poeta, não sei o que dizer sobre o encantamento de Gal Costa, o seu jeito brejeiro, a sua voz que me parecia ser a de um anjo. Talvez por isso mesmo, tempos difíceis, Deus e os Orixás baianos resolveram levá-la para alegrar os Céus, principalmente os mais recém-chegados terráqueos.

Lembro-me dela em seu início de carreira, coincidindo com o meu início na Rádio. Lembro-me dela vestindo de roupagem nova a música popular brasileira. Lembro-me dele e seu espírito exuberante em palcos de Belo Horizonte, Rio e São Paulo. Lembro-me dela adocicado, na medida certa o rádio e a televisão brasileira.

Lembro-me dela enfeitando as Dunas da Gal, em uma etapa posterior, em Ipanema, Rio de Janeiro, quando esta praia se tornou mundialmente famosa, época da construção do emissário a desembocar no trecho do Atlântico mais conhecido como Posto 9. Inesquecíveis em minha memória.

Gal Costa de voz tão doce como se temperada fosse por uma quituteira baiana a comercializar o produto de seus dotes nas praias encantadas de salvador e, por conseguinte, onde ela repousasse os seus pés. Pode ser que eu disponha de alguma razão para o comentário inicial. Mas igualmente pode ser que Deus e os Orixás andem tristes com o Brasil.

Ao vivo ouvirão além de Deus outros que já partiram e os anjos. Vale aqui o pleonasmo de dizer que o Céu está em festa. Posso até supor na comissão de organização Dorival Caymmi, Tom Jobim e Vinícius de Moraes e outros bambas, Nara Leão a porta estandarte da Comissão de Frente.

Mas a vida é assim. Os que já estão em outros paramos conviveram com você.Quanto a este velho jornalista e poeta resta conviver com a sua lembrança e com a sua voz memorizada através dos milagres da tecnologia, Siga em paz o seu novo destino e nos momentos de maior angústia para nós que aqui ficamos, vele por nós. Saravá!