Por Mauro Ferreira

Título: Ao arrepio da lei

Artistas: Chico César e Zeca Baleiro

Edição: Saravá Discos / Chita Discos

Dois anos após anunciarem o primeiro disco a dois com o single duplo Lovers + Respira (2021), Chico César lançam enfim o álbum, intitulado Ao arrepio da lei e posto em rotação nos players de áudio na sexta-feira, 1º de março.

Com sete canções inéditas entre as 11 músicas que compõem o repertório inteiramente autoral, o álbum Ao arrepio da lei amplia parceria apresentada há 29 anos com a gravação de Pajelança no primeiro álbum da cantora e compositora paulistana Vange Milliet, lançado em 1995.

Artista que trabalhou com Chico César no início da carreira de ambos em São Paulo (SP), em 1988, quando ela era fotógrafa e ele ainda se debatia entre o jornalismo e a música, Milliet assina a foto da capa do disco e as imagens do material promocional do álbum gravado com produção musical do violonista Swami Jr.

Amigos desde 1991, ano em que Baleiro chegou a São Paulo (SP), o paraibano Chico César e o colega maranhense se irmanam neste álbum que transita entre a aridez do sertão nordestino e o calor do verão urbano, com ênfase nos sons da nação nordestina e na harmonização de influências que vão do baião de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) ao sentimentalismo da canção popular brasileira, passando pela Jovem Guarda, a música italiana, o reggae e o soul nacional, entre outras referências musicais.

Se em Mocó os artistas percorrem a rota severina dos retirantes de um sertão aquecido pela aspereza dos sons árabes, Lovers – faixa gravada com produção musical de Érico Theobaldo – areja o disco ao evocar a atmosfera romântica do reggae propagado nos bailes do Maranhão, estado do Brasil conhecido como a “Jamaica brasileira”.

Destaque da safra autoral, a música-título Ao arrepio da lei cruza country com folk no acento western e nordestino desta faixa que soa como autobiográfica carta de intenções dos artistas ao abrir o álbum.

Na sequência, a canção Bardo segue o seco e afia a lâmina da faca com versos como “Sigo respirando / Sem saber nem quando ou onde há paz / O meu corpo marcha / E vou atrás”.

Entre a melancolia de Narcisos (balada introspectiva que entorna poesia em versos como “Eu vi violetas nuas / Narcisos a dançar / Vi através das luas / O céu chorar”) e a espirituosidade de Dislike (xote que tem a verve de Baleiro em versos sobre os bloqueios das relações amorosas nas redes sociais), Chico César e Zeca Baleiro apresentam Neon (canção de menor brilho no conjunto do disco e das obras do compositores), aceleram o beat para tangenciar o ritmo ágil do ska em Beije-me antes – na levada dos sopros orquestrados pelo trombonista Mestre Tiquinho – e incursionam pelo soul brasileiro em Verão, faixa produzida e mixada por Alexandre Fontanetti.

A introdução de Verão remete ao soul de Hyldon – referência assumida de Chico César e Zeca Baleiro na composição – enquanto o refrão reverbera arranjos de discos de Cassiano (1943 – 2021) com as vozes do coro e o naipe dos metais orquestrados pelo clarinetista e saxofonista Nailor Azevedo, o Proveta. Cabe lembrar que Verão e Beije-me antes são faixas já apresentadas no single duplo editado pelos artistas em dezembro de 2022.

Gravado aos poucos e concluído no segundo semestre de 2023, o álbum Ao arrepio da lei gera turnê pelo Brasil que estreia em Curitiba (PR) na sexta-feira, 8 de março, seguindo na sequência para cidades como Florianópolis (SC), Recife (PE), Brasília (DF), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ).

“Quero ver a geral se rebelar / Se voltar para o belo, rebolar / Tudo falta e a malta quer dançar”, avisam Chico César e Zeca Baleiro em versos da faixa final, Aglomerar.

Como mostra o álbum Ao arrepio da lei, ainda surte efeito a pajelança que uniu as obras de Chico César e Zeca Baleiro em 1995.


Avatar