Durante a Audiência de Gerenciamento de Caso da ação judicial inglesa relacionada ao rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, uma série de revelações preocupantes emergiram, sugerindo uma compreensão prévia dos riscos envolvidos pela BHP, uma gigante anglo-australiana do setor de mineração. Um e-mail apresentado durante a audiência, nesta quinta-feira, aponta para a possibilidade de que a BHP estava plenamente ciente dos perigos iminentes de colapso da barragem gerenciada pela Samarco, empresa na qual a BHP tinha envolvimento operacional.

O desastre ocorreu em 5 de novembro de 2015, resultando na perda trágica de 19 vidas e desencadeando um fluxo devastador de lama que se espalhou pelo rio Doce, alcançando o oceano Atlântico. O evento foi caracterizado como um dos piores desastres ambientais do Brasil e do mundo, com repercussões profundas para as comunidades afetadas e para o meio ambiente.

De acordo com representantes do escritório Pogust Goodhead, que atua em nome de milhares de vítimas em Londres, um e-mail enviado por um ex-executivo da BHP, um dia após o desastre, lança luz sobre a extensão do conhecimento interno da empresa sobre os perigos iminentes. O e-mail revela que a BHP havia solicitado um relatório independente sobre a segurança da mina, o qual teria sido compartilhado com a diretoria da Samarco. Marcus Randolph, ex-chefe de divisão da BHP e membro do conselho da Samarco na época, detalhou em sua correspondência ao então diretor-executivo da BHP, Andrew Mackenzie, que havia inspecionado pessoalmente a área afetada e enviado à Samarco uma nota detalhada contendo extensos comentários sobre os riscos específicos associados à barragem.

Além disso, os advogados do escritório inglês revelaram que o sistema de gerenciamento de riscos “1SAP” da BHP incluía um código específico para “Falha da barragem de rejeitos da Samarco”, o que indica uma compreensão formalizada dos perigos inerentes à estrutura.

A juíza Finola O’Farrell ordenou à BHP a apresentação do contrato de trabalho de seu diretor-executivo na época do colapso da barragem de Mariana, juntamente com outros documentos que possam corroborar a responsabilidade da empresa no desastre. Esta medida evidencia a seriedade com que as autoridades judiciais estão tratando a questão e sua determinação em buscar a verdade e a justiça para as vítimas.

O CEO e sócio-administrador do Pogust Goodhead, em declaração pública, destacou que as novas evidências contradizem veementemente a posição pública da BHP, que durante anos negou reparações adequadas às vítimas e gastou recursos significativos nos tribunais para obstruir a busca pela verdade. A divulgação dessas informações críticas é vista como essencial para esclarecer a extensão do conhecimento e da responsabilidade da BHP no desastre de Mariana.

A Audiência de “Gerenciamento de Caso da Ação Inglesa Mariana”, continua nesta sexta-feira, com o objetivo de preparar o julgamento das responsabilidades das mineradoras Vale e BHP Billiton na tragédia. O julgamento está marcado para começar em 7 de outubro deste ano e deve se estender por 14 semanas, prometendo ser um marco importante na busca por justiça e responsabilização pelos danos causados.


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