A visita ao Brasil do presidente francês Emmanuel Macron procurou convencer o seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a se aproximar da posição francesa contra a Rússia. O que, por sua vez, parece estar falhando.

É o que explicaram à Sputnik os analistas Marcio Olímpio e Carlos Pereyra Mele. Contudo, a política externa de Lula poderá destruir as intenções do francês.

Embora a agenda oficial tivesse a Amazônia e o reconhecimento dos povos indígenas da região como um de seus pontos mais marcantes, a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, ao Brasil esconde, segundo analistas, um objetivo, principalmente, geopolítico: tentar aproximar o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, da postura mais dura da Europa contra a Rússia — algo que está fadado a derrota.

No entanto, uma parte importante da agenda entre os dois líderes pode permanecer longe das lentes fotográficas: a relacionada com o conflito na Ucrânia e a posição em relação à Rússia, um campo em que Macron tem sido particularmente duro nas últimas semanas.

Macron vai de alguma forma tentar aproximar Lula da questão da Ucrânia, buscando alguns pontos comuns entre os dois países, embora eles tenham posições muito distantes sobre o assunto”, disse o cientista político brasileiro Marcio Olímpio à Sputnik.

O analista sustentou que o presidente francês está levando a cabo uma “estratégia” para tentar colocar a questão da Ucrânia na vanguarda, tanto dentro de França como em áreas como o G20.

Carlos Pereyra Mele, analista político e diretor da revista Dossier Geopolític, disse à Sputnik que, além do “canto da sereia das políticas ambientais” está a necessidade da França de encontrar um aliado em termos geopolíticos.

“Macron vai tentar influenciar o Brasil a deixar de apoiar os seus parceiros do BRICS e vai tentar fazer com que o Brasil sancione economicamente a Rússia”, alertou o especialista.

No entanto, é possível que as intenções de Macron não se concretizem durante esta viagem e o presidente brasileiro não cumpra a sua posição sobre a Ucrânia.

Para Olímpio, os esforços de Macron colidem com a posição de Lula, que não só evitará ceder a uma postura belicista como também tentará, segundo o analista, lembrar ao presidente francês a “responsabilidade sistémica” do seu país como potência nuclear.

O Brasil espera que a França não contribua para o aumento das tensões da OTAN em relação à Rússia”, disse o especialista.

Pereyra Mele destacou que a política externa desenvolvida por Lula no seu terceiro governo está estritamente enquadrada no seu apoio ao BRICS e na promoção do Sul Global, procurando ter voz própria em áreas como África ou Médio Oriente.

“Macron não tem poder para pressionar Lula. Pelo contrário, é a França que deveria se preocupar porque precisa continuar mantendo, não importa o que aconteça, os acordos assinados com o governo anterior de Lula [2003-2011] sobre armas, especialmente depois do tapa que a Austrália concedeu em 2021 com os contratos para o fornecimento de submarinos nucleares”, disse ele.


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