Deputados da Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) visitaram a Serra do Curral, na segunda-feira, 9, para verificar os danos que a mineração poderá provocar. Eles estavam acompanhados de ambientalistas e lideranças comunitárias, que chamaram atenção para os riscos para o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Segundo a ambientalista Jeanine Oliveira, do projeto Manuelzão, os danos das cavas de mineração podem se espalhar por um raio de três a quatro quilômetros. Ela alertou que a mina da Tamisa pode comprometer o aquífero que abastece um novo sistema de captação de água que está sendo construído pela Vale como parte do acordo firmado com o Ministério Público após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Além disso, o trânsito de caminhões pesados vai impactar a fauna e a flora da região. “Os ventos vão levar a poeira de minério para praticamente toda Belo Horizonte. Isso vai ter um impacto grande sobre a saúde das pessoas”, acrescentou o dirigente do Movimento dos Atingidos por Barragens, Joceli Andrioli.

Os ambientalistas também apontaram os riscos para a proteção da Serra do Curral como patrimônio cultural dos belo-horizontinos. De acordo com Jeanine Oliveira, a área a ser minerada é a mais preservada da região e fica ao lado do Pico Belo Horizonte, ponto culminante dessa formação rochosa, com 1.390 metros de altitude. “Esse pico vai ficar ilhado pelas cavas norte e oeste da Tamisa e pelas cavas da Empabra e de Águas Claras, que já existem”, explicou.

Para a deputada Beatriz Cerqueira (PT), a autorização dada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) para um novo projeto de mineração na Serra do Curral é ilegal e irregular. “O governo mentiu. A Tamisa mentiu. Os defensores da mineração mentiram para a sociedade, dizendo que o impacto ambiental não é tudo o que está sendo denunciado”, afirmou.

A parlamentar considerou graves os riscos para a segurança hídrica da RMBH e lembrou que o licenciamento ambiental para a operação da Tamisa não poderia ter sido autorizado depois de iniciado o processo de tombamento da Serra do Curral como patrimônio cultural de Minas Gerais.

Beatriz Cerqueira disse que vai cobrar da Secretaria de Estado de Cultura explicações sobre o tombamento e defendeu a instalação de uma comissão de parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o processo de licenciamento ambiental da Tamisa. Segundo ela, o requerimento da CPI já tem 23 das 26 assinaturas necessárias para sua instalação.

Ao final da visita, três mulheres indígenas fizeram um ritual de defumação, invocando seres encantados e ancestrais para espantar os males da Serra do Curral e do mundo. “A serra é mais que um patrimônio cultural; é a proteção de todo o nosso povo, e isso o dinheiro não pode comprar”, afirmou Maria Flor Guerreira, que se define como “engravidadora de sonhos e plantadora de árvores”.

Crédito Foto: Luiz Santana


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