Por José Dirceu

Ex-deputado federal e ex-ministro da Casa Civil (Governo Lula)

O momento eleitoral e político nessa reta final da campanha se caracteriza pela defensiva e perda de controle da agenda por parte da campanha de Bolsonaro.

O sinal mais claro foram as respostas erráticas e atrasadas à criminosa e violenta resistência a uma ordem legal de prisão expedida contra o aliado de sempre de Bolsonaro (PL) e seu governo, Roberto Jefferson (PTB).

O mesmo Jefferson, ex-deputado e presidente do PTB, a quem a mídia deu credibilidade e espaço para inventar a farsa do Mensalão.

A campanha de Bolsonaro perdeu também a agenda econômica e social, com as propostas de congelamento do salário mínimo e aposentadoria e fim das deduções de educação e saúde no Imposto de Renda das pessoas físicas; com os violentos protestos bolsonaristas em Aparecida e com a oposição de fiéis neopentecostais às imposições e ao assédio eleitoral de pastores do bolsonarismo; com a perda de tempo no horário eleitoral pelas mentiras que veicularam sabendo dos riscos que corriam de direito de resposta.

Por fim, perdeu a iniciativa e a razão ao trazer para o centro da sua campanha Roberto Jefferson, por meio do inominável falso padre Kelmon, que assumiu a condição de candidato a presidente pelo PTB com o impedimento de Jefferson.

Quando Bolsonaro e aliados se deram conta dos estragos, passaram a atirar para todos os lados. Da ridícula tentativa do presidente de se desvencilhar do seu aliado de sempre, passando pela pantomima organizada pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) de ressuscitar supostas denúncias de Marcos Valério, com repercussão zero, até as histórias de Fábio Faria sobre favorecimento ilegal de rádios do Nordeste à campanha de Lula, sem provas robustas. Tal o improviso que, ao fazer o anúncio, não sabia responder às perguntas e questionamentos da imprensa.

Se o 1º movimento revela atitude defensiva e desorganização, apesar da ofensiva nas redes já bastante debilitada pela atuação da campanha de Lula e pela ação legal da Justiça Eleitoral contra as fake news, o 2º movimento –acusação de fraude de inserções eleitorais nas rádios do Nordeste– revela a estratégia de Bolsonaro e seus aliados para o mais grave: contestar o resultado eleitoral.

Nada novo no dicionário bolsonarista que, desde 2018, vem questionando a segurança das urnas –velho lenga lenga do negacionismo– criando um clima para um 3º turno, para a não aceitação dos resultados e para tumultuar ou tentar inviabilizar a transição ou atrasá-la. Pela lei e pela Constituição, a transição deve ser apoiada pelo governo derrotado nas eleições.

Seria cômico se não fosse trágico, essa tentativa de nos imputar uso indevido do horário eleitoral, sem prova alguma, quando o governo, com o dinheiro dos impostos que pagamos, usa e abusa do malfadado “orçamento secreto”, das emendas parlamentares, da máquina pública, dos espaços públicos, das fake news.

Tudo isso enquanto corta recursos para a saúde, educação, ciência e tecnologia, farmácia popular, creches, leite para as famílias, material escolar, moradia popular, combate à aids e tratamento de câncer.

Nossa 1ª prioridade é vencer em 30 de outubro. Levar os eleitores a votar, reduzir a abstenção, ganhar apoio dos indecisos e eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), convencer a votar em Lula os que pretendem anular o voto ou votar em branco. Mais importante: ocupar as ruas.

O final de semana passado (22 e 23 de outubro) foi um exemplo do que deve ser feito, pela forma massiva como a população se manifestou em ruas e praças em todo o país.

Temos que manter o espírito desta 5ª feira (27.out.2022) até domingo (30.out.2022). É claro que vamos comemorar a vitória quando as urnas a confirmarem, mas teremos que manter a mobilização para assegurar a vigilância e a defesa do resultado eleitoral e da posse do eleito.

Só o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tem o poder de impugnar ou não uma eleição e diplomar ou não o candidato eleito no 30 de outubro. Qualquer outra tentativa de questionar o resultado eleitoral é inconstitucional.

O importante nessa etapa finalíssima, quando inclusive em São Paulo Lula e Haddad disputam com chances de vencer, é manter a ofensiva e nos preparar, enquanto direção e militância, sempre em conjunto com nossos aliados da forma mais ampla possível, para a batalha do 3º turno se ela vier.

E, na melhor das hipóteses, só para comemorar a vitória e começar a transição para o governo de reconstrução e transformação, resgatando nosso Brasil e nossa democracia.


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