O improvisado, comentado e, até certo ponto, constrangedor debate realizado entre o pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) e o humorista Gregório Duvivier deixou escancarado a ânsia e o desespero que o ex-governador do Ceará tem de ganhar engajamento e movimentar uma campanha profundamente marcada pela polarização.

Ciro que, goste dele ou não, tem um projeto de país, não consegue quebrar a disputa personalizada nas figuras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas já deixou claro: vai até o fim, para o tudo ou nada e, na pior das hipóteses, tenta já se posicionar para uma nova batalha em 2026.

Falta debate e discussão de ideias nessa eleição. E isso prejudica Ciro, o único que construiu uma proposta um pouco mais elaborada até o momento. E há a perspectiva de que, mesmo durante a campanha propriamente dita, nenhum encontro reunindo todos os candidatos seja possível.

Bolsonaro nem sequer tem mandado representantes às reuniões preparatórias para os debates. E Lula, liderando as pesquisas e sabendo que seu oponente não vai, também não pretende ir. Ciro, portanto, acaba conversando sozinho. Principalmente em razão de não ter, nem de longe, o mesmo espaço para se apresentar que Lula e Bolsonaro, que estão aí rivalizando em um plebiscito entre os governos de um e de outro.

Aí residem as tentativas de achar um engajamento próprio, aproveitando-se de polêmicas e falas dos demais. Assim surgiu a live Ciro Games e os reacts do pré-candidato, formato em que ele pauta e comenta o que dizem seus adversários tal como fazem hoje influenciadores poderosos no país.

Da mesma forma nasceu a ideia do debate com Gregório Duvivier, um ex-eleitor que fez críticas ao pedetista em seu programa. Eu não sei se algum dos dois foi realmente ao debate com a vaga esperança de que fossem discutir alguma ideia. O que se viu, publicamente, foi apenas uma lavação de roupa suja transmitida.

Do ponto de vista de imagem, parece-me que ficou ruim para os dois. E como Ciro é candidato e Gregório não, ou seja, eles não estão em patamar de igualdade, o pedetista tinha mais a perder. Mas de outro lado, se o objetivo era engajar e fazer mais gente prestar atenção nele, ainda que à base de xingamentos e uma agitação típica da rede, funcionou. A live engajou. O assunto ganhou evidência mesmo em uma semana marcada pelo casamento de Lula e por mais algumas brigas de Bolsonaro com os tribunais.

O problema é sair dessas bolhas que debatem política o tempo todo para o público comum. Sem alianças, sem tempo de TV, sem capilaridade, Ciro não conseguiria. O tempo para que chegasse a 15% das intenções de voto de modo a viabilizar alguma aliança ao centro, seja com o PSD ou com o União Brasil, está se esgotando.

E o pedetista que, resistentemente, se mantém na casa dos 7% a 8% dos votos, a despeito de todos os candidatos que entram e saem da disputa, não passa disso. Ele não perde, mas também não ganha.

A estratégia mais recente tem sido, insistentemente, bater mais em Lula do que em Bolsonaro, que tem feito até com que aliados do presidente compartilhem o pedetista. Ainda que Ciro, obviamente, tenha ideias mais próximas do primeiro do que do segundo. E aí reside uma certeza e uma hipótese.

A certeza é a de que ele não vai desistir. Ciro irá até o fim na eleição de 2022. E a hipótese é a de que já trabalha com os olhos em 2026. Da mesma forma se deu em 2018. Na ocasião, embora tenha declarado voto em Haddad e tenha voltado do exterior para votar no petista, Ciro optou por passar toda o segundo turno da campanha na Europa.

Ele não queria ser fotografado no palanque petista, pois acreditava, àquela altura, que isso ajudaria a ganhar votos arrependidos em Bolsonaro quatro anos depois. Isso não aconteceu, em parte pois Bolsonaro manteve seu núcleo duro e, em parte, porque a volta de Lula arrasou suas pretensões à esquerda.

Agora o cálculo é semelhante. Para Ciro, criticar mais Lula, hoje líder e favorito nas pesquisas, faz mais sentido quando se olha também para o futuro. Se ele conseguir enfraquecer o presidente e isso fizer dele mais competitivo em 2022, tudo bem.

Mas se isso não for possível e Lula vencer a disputa, Ciro espera ser uma opção viável ao centro quatro anos depois, contando com votos dos bolsonaristas de hoje e dos arrependidos de amanhã. Isso tem um efeito colateral de fortalecer Bolsonaro e traz um risco de perda de um eleitor de hoje e que esteja mais à esquerda. Mas é o risco que Ciro aceitou correr. Ele vai para o tudo ou nada.