O União Brasil é o partido mais disputado pelos pré-candidatos ao governo de Minas. A sigla mantém conversas com Romeu Zema (Novo), Alexandre Kalil (PSD), Carlos Viana (PL) e Marcus Pestana (PSDB).

O principal fator de cobiça é o tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Sozinho, o União Brasil terá direito a 16,5% do total, conforme estimativa de O TEMPO com base nas regras para o cálculo da divisão do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE).

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgará a divisão oficial antes do início da campanha eleitoral. O cálculo é feito da seguinte forma: 10% do tempo total é dividido igualmente entre todos os partidos e 90% é distribuído de forma proporcional ao tamanho da bancada na Câmara dos Deputados que cada partido elegeu em 2018, independentemente se houve troca de legenda depois.

A estimativa leva em conta somente o tempo dividido de forma proporcional. A propaganda eleitoral para governador na televisão será veiculada às segundas, quartas e sextas-feiras, a partir do dia 26 de agosto. Serão 10 minutos com início às 13h15 e outros 10 minutos às 20h45.

O União Brasil se tornou o maior partido do país em termos de espaço no HGPE porque é o resultado da fusão do PSL (52 deputados federais) e do DEM (29), o que lhe dá uma bancada de 81 parlamentares. O segundo lugar é do PT, que tem 55 deputados federais.

Em Minas, a preferência dos integrantes do União Brasil é por apoiar a reeleição do governador Romeu Zema (Novo), desde que possa indicar o deputado federal Bilac Pinto (União Brasil) como vice na chapa. Porém, o favorito para a vaga no momento é o deputado federal Marcelo Aro (PP).

Atualmente, a coligação do governador, formada por Novo, PP, Solidariedade, Podemos, PTB e Patriota, tem 19,35% do tempo, que é dividido proporcionalmente.

Caso feche com o União Brasil, esse percentual vai para 34,2% – nesse caso, o Partido Novo (1,63%) deixa de ser contabilizado porque apenas as seis maiores siglas de cada coligação são consideradas para o cálculo.

“A disputa pela reeleição, que é o caso do Zema e de vários governadores, é uma eleição de julgamento do desempenho do governo. É muito ruim para um candidato à reeleição não ter tempo de TV, porque ele precisa mostrar o que fez, justificar o que não fez e dizer o que ele quer fazer”, afirma o professor de ciência política da Uerj e da ESPM-RJ, Fábio Vasconcellos.

“Como a avaliação do Zema em Minas é boa, muito provavelmente o argumento dele será que o Estado vai melhorar ainda mais em um segundo mandato dele. A campanha deve apostar nisso”.

O União Brasil também pode apoiar o pré-candidato do PSDB a governador, Marcus Pestana (PSDB), que atualmente tem 7,54% do tempo de TV. O presidente nacional do União, Luciano Bivar, reuniu-se com o tucano em Belo Horizonte no final de maio para discutir um possível acordo, que também passa por uma aliança nacional entre as siglas.

Até agora, o único aliado de Pestana é o Cidadania, que formou uma federação com o PSDB. O pré-candidato a governador de Minas também tenta atrair o MDB (6,92%).

Tempo é importante, mas não decisivo

Os dois especialistas ouvidos pela reportagem explicam que o tempo de propaganda eleitoral na TV e no rádio é importante para os candidatos, mas que não é necessariamente determinante para o resultado, que depende do contexto de cada eleição.

Em 2018, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro teve apenas oito segundos a cada bloco de 10 minutos de propaganda no primeiro turno. O governador Romeu Zema (Novo) teve seis segundos. Mesmo assim, foram eleitos. Como se colocavam como candidatos antipolítica, eles não formaram alianças que poderiam lhes dar mais tempo.

“A conjuntura política-eleitoral de 2018 era que o eleitor médio estava com raiva, injuriado. Ele queria um outsider”, afirma Fábio Vasconcellos.

Segundo ele, nestas eleições, a televisão terá um papel de complementar a comunicação digital, que explodiu nas eleições de quatro anos atrás.

“É um modelo em que a comunicação da TV vai circular nas redes. O candidato já faz peças que tenham capacidade de compartilhamento nas redes. Assim como as redes, que estão sendo monitoradas pelas campanhas, vão produzir materiais que serão naturalmente incorporados na TV”, explica o cientista político.

Emerson Cervi, da UFPR, destaca que a discussão política nas redes sociais é restrita a um percentual pequeno dos eleitores, que são os mais engajados e militantes.

“O horário eleitoral serve também para demarcar o tempo da política. A maior parte do eleitorado não se preocupa com a eleição antecipadamente. Ele vai começar a se preocupar quando começar a receber sinais de que a campanha começou e de que ele precisa tomar uma decisão de voto para os cargos em disputa”, afirma.

Kalil busca visibilidade no interior e associação a Lula

O líder em tempo de TV atualmente é o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). Concorrendo por um partido médio, ele se beneficiou da aliança fechada com a federação formada por PT (11,7%), PCdoB (2,04%) e PV (0,81%). Com estes partidos, ele tem 21,18% do tempo de propaganda que é dividido proporcionalmente.

O presidente do PSD de Minas, senador Alexandre Silveira (PSD), tenta negociar o apoio do União Brasil a Kalil. Uma das possibilidades aventadas é que a sigla indique o suplente de Silveira, que é pré-candidato à reeleição para o Senado.

“Kalil, que é o candidato de oposição, não é conhecido no interior de Minas Gerais, já que foi prefeito da capital. O papel do horário eleitoral neste caso é torná-lo conhecido no mesmo nível em todas as regiões do Estado. Sem o tempo de TV e rádio, ele teria mais dificuldades em fazer isso.

Com o horário eleitoral, os candidatos conseguem chegar a todos os municípios do Estado”, avalia o professor do Departamento de Ciência Política da UFPR, Emerson Cervi.

Vasconcellos, da UERJ e da ESPM-RJ, lembra que mais de 50% dos brasileiros assistem TV regularmente. Ele considera muito provável que Kalil aproveite o tempo que terá na propaganda eleitoral para destacar que é o candidato de Lula (PT) em Minas Gerais. “O Lula é uma ajuda muito importante para o Kalil se tornar conhecido e popular”, diz.


Paola Tito