Entre 2020 e 2022 o Brasil tem vivido os dramas da pandemia. O impacto na economia foi severo e pior ainda o impacto em número de vidas perdidas e famílias desamparadas. Ainda este ano estamos com a pandemia presente no mundo, especialmente na China, que pode afetar as cadeias de distribuição, trazendo novamente impacto em preços. No caso brasileiro, por ora a pandemia parece controlada, a ver se não teremos nenhuma surpresa até o final do ano.
Mas a pandemia trouxe também impactos na economia de outra ordem. Com o forte aumento nos preços das commodities e a igualmente forte depreciação cambial, os preços em reais das commodities dispararam nos últimos dois anos. A renda do setor agropecuário, que historicamente ficava em torno de R$ 600 bilhões por ano saltou em 2021 para R$ 1 trilhão e vai subir mais em 2022. Essa forte expansão no agro fica diluída nos dados agregados de PIB, mas seu impacto fica mais claro quando vemos os impactos regionais.
O PIB estadual tem tido uma ampla variância nos últimos três anos em nossas estimativas. Os estados com maior peso do agronegócio têm sido aqueles com maior expansão de atividade no período. No acumulado de crescimento do PIB nos últimos três anos, os três estados que mais devem ter se expandido foram Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás, os três com forte presença do agronegócio.
E não podemos minimizar o impacto do setor para esses estados. A cadeia toda do agro, segundo cálculos do CEPEA, está na casa de 28% do PIB atualmente. Mas tem estados, segundo as contas de Carlos Bacha, da Esalq/USP, com peso do setor acima de 60% de seu PIB. Esses resultados podem ser vistos também em outros indicadores, como o de mercado de trabalho do CAGED, que mostra forte expansão de contratação justamente nos estados com maior peso do agronegócio este ano.
Os dez estados que mais cresceram, na verdade, têm forte peso do agro, com exceção de Santa Catarina, que é um estado bastante diversificado e que serve de exemplo do potencial além do agro. Digno de nota é que mesmo com esses estados indo bem, os números são baixos. Crescer 4,9% em três anos acumulados é pouco, mas reflete as dificuldades gerais da economia além das commodities.
Esse é o caso do Rio de Janeiro, que apesar de ter a cadeia de óleo e gás muito relevante no estado, têm dificuldades em crescer além desse setor. A indústria e os serviços do estado têm sofrido com as turbulências políticas do estado, que o faz ser um atrator de investimentos cada vez menor, fora a cadeia de óleo e gás.
Interessante notar que os estados que menos cresceram no período estão concentrados em áreas mais pobres, que não se beneficiaram explicitamente das commodities, e que tiveram pouco estimulo de renda como já tiveram no passado.
Em outros tempos, o Bolsa Família, o salário mínimo e a previdência eram fatores importantes de expansão de renda desses estados. Após o auxílio emergencial em 2020, que ajudou muito a população mais pobre dessas regiões, o impacto em 2021 e 2022 será bem menor. Mesmo com o Auxílio Brasil atual acima do que era o Bolsa Família do passado, a inflação acelerada, que deve acumular cerca de 18% em dois anos (2021 e 2022) tirarão renda disponível dessas regiões.
Politicamente, é interessante observar que o resultado dos estados tende a beneficiar ambos os candidatos que estão na dianteira das pesquisas eleitorais atualmente. No caso de Bolsonaro, os estados do agro já têm uma tendência natural de apoiá-lo que vem desde a eleição de 2018 e que esses resultados reforçam a ideia de que o presidente deve ir bem nas eleições nesses estados.
Por outro lado, Lula deve se beneficiar nos estados mais pobres quem sofrem com baixo crescimento e nível de renda e são os que têm mais saudades dos tempos áureos de crescimento mais forte da região na época de seu governo.
No final, a dinâmica estadual parece mostrar que a disputa política será acirrada este ano, com os dois candidatos mostrando sua força em cada canto do país.