Há outras, mas a única pergunta que resta é se Lula vence a eleição no primeiro turno ou no segundo. No longo prazo, uma dúvida de pequena importância.

Desde o início efetivo do processo eleitoral em abril do ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal devolveu ao ex-presidente o que lhe havia sido ilegalmente subtraído, tudo indicava que era para esse cenário que caminhávamos.

E aqui chegamos. Muita gente se ofereceu como opção de terceira, quarta ou quinta via. Muitos interesses se conjugaram para construir e lançar outros nomes. Mas só ficaram Lula e o último zumbi produzido nos laboratórios de nossa elite para tentar derrotá-lo.

É impossível responder à ­pergunta com certeza absoluta. Mas a probabilidade­ de uma vitória do petista em 2 de outubro, data do primeiro turno, tem consistentemente aumentado desde o começo do ano. Em primeiro lugar, porque as intenções de voto em Lula estão em crescimento.

Se considerarmos os resultados médios mensais de todas as pesquisas relevantes (as presenciais, feitas por meio de entrevistas pessoais) realizadas de janeiro para cá, vemos que Lula foi de 50% dos votos válidos para 49% em fevereiro, alcançou 51% em março e se manteve acima da metade, na margem de erro, em abril.

Em maio, ultrapassou-a e chegou a 53%. Nas pesquisas feitas até agora em junho, repetiu essa taxa. Nas mais recentes, obtém 54%. Algo que parecia uma hipótese no fim do ano passado tem sido confirmado mês após mês.

Em segundo lugar, o conjunto das pesquisas mostra que Bolsonaro não consegue crescer por nada que faça. Note-se que o governo dedica à tentativa de melhorar suas chances de reeleição o maior volume de recursos públicos de nossa história eleitoral, com a tolerância daqueles que se horrorizavam com o gasto social dos governos do PT.

Se considerarmos a multiplicação de programas de puro populismo distributivo, sem quaisquer finalidades de promoção e melhora estável dos beneficiários, o capitão torra, mensalmente, o equivalente a um Bolsa Família anual. Seus apaniguados na Câmara e no Senado fazem festa com as tais “emendas de relator”, ao destinar verbas para comprar apoios locais, pagar “artistas” e alegrar o povo (quem sabe, para que pare de se preocupar com a vida).

E, como Bolsonaro não tem mesmo nada de útil a fazer, aloca perto de 80% de seu tempo a fazer campanha país afora, com o dinheiro dos contribuintes. Enquanto isso, a ralé militar grunhe para a população e parte da liderança religiosa faz coro, prometendo as chamas eternas para quem não votar como manda.

A imprensa corporativa reprova o cafajestismo do chefe, mas está tão comprometida com sua agenda oportunista que não vai além da crítica superficial. Ainda há dinheiro para ganhar, como mostra a jogada da privatização da Eletrobras no apagar das luzes.

Nada que Bolsonaro, seu governo e aliados tenham feito parece ter produzido efeito em suas intenções de voto. De janeiro para cá, ele melhorou, no voto de primeiro turno, somente por consequência de fatores externos à sua campanha: a saí­da do páreo de Sergio Moro e, depois, de João Doria. É verdade que parte expressiva do eleitorado de ambos retornaria ao capitão em um segundo turno, mas, pelo que as pesquisas sugerem, nem todos.

A soma dos votos em outros nomes (sem considerar Ciro Gomes) foi de 15% para 5% dos válidos, entre janeiro e junho. O capitão melhorou 6 pontos porcentuais, de 28% para 34%, Ciro ficou igual e os demais foram para Lula. Resultado: Bolsonaro, que precisava ter um crescimento espetacular, reduziu a diferença para Lula em apenas 2 pontos.

Ciro, que teria de subir estratosfericamente, não se moveu. Com isso, Lula se aproximou de uma vitória no primeiro turno, chance que aumentaria se a metade dos simpatizantes de Ciro, que pretende votar no petista no segundo turno, optar por fazê-lo já no dia 2 de outubro.

Aritméticas à parte, pesquisas qualitativas em andamento sugerem que parcelas crescentes do eleitorado sentem que não precisam mais tempo para escolher entre Lula e Bolsonaro, não se mostram interessadas em conhecer “novidades” de última hora e não veem Ciro Gomes como opção. Para a grande maioria do povo, quanto menos tempo tivermos desse capitão, melhor.

Para Lula, em suas duas eleições, não vencer no primeiro turno nunca foi problema e ele próprio disse, depois da eleição de 2006, que foi melhor vencer com 60% dos votos no segundo que por 50% e poucos no primeiro. Neste ano é diferente, mas o que importa não é o dia em que o capitão deixa de atrapalhar o Brasil. É ele ir embora. Se depender do voto, irá.

 

Fonte: Sociólogo Marcos Coimbra