A Argentina capturou Joel Borges Correa, o quarto foragido brasileiro condenado por envolvimento nos ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro de 2023. Correa foi preso na turística El Volcán, na província de San Luis, durante uma fiscalização de trânsito, quando tentava fugir para o Chile pela Cordilheira dos Andes. A detenção ocorreu na terça-feira (19) e foi realizada em cooperação com a Polícia Federal brasileira.
Correa vivia em Buenos Aires e foi encontrado com uma mala de roupas no carro, indicando a tentativa de escapar das autoridades. No Brasil, ele foi condenado a 13 anos e seis meses de prisão por sua participação nos atos golpistas. Com essa prisão, o número de foragidos capturados na Argentina sobe para quatro. Os mandados de prisão foram emitidos pela 3ª Vara Federal, liderada pelo juiz Daniel Rafecas, em resposta a pedidos de extradição feitos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A maioria dos brasileiros procurados por envolvimento nos atos de 8/1 está solicitando refúgio na Argentina, alegando perseguição política no Brasil. Esse processo, tradicionalmente lento, complica a extradição. Até outubro, 185 brasileiros pediram refúgio no país vizinho, número expressivamente maior do que os três pedidos registrados em 2023 antes do caso.
Os detidos permanecerão sob custódia até que audiências de extradição sejam realizadas. Entretanto, não há datas definidas, e os foragidos podem recorrer às cortes argentinas para tentar barrar o envio ao Brasil. A situação é agravada por incertezas sobre o apoio do governo de Javier Milei, que, embora considerado aliado pelos foragidos, já declarou que seguirá as decisões judiciais sobre as extradições.
Alguns apoiadores de Bolsonaro, que não possuem pedidos de extradição, declararam intenção de participar da Cpac, conferência de políticos conservadores, que ocorrerá em Buenos Aires sob a chancela do governo Milei. O evento contará com a presença confirmada do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Eduardo Bolsonaro. A reunião tem o objetivo de fortalecer alianças entre líderes da direita global, em especial diante do possível retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.
Enquanto isso, outros foragidos já capturados na Argentina enfrentam condenações severas no Brasil. Além de Correa, foram detidos Wellington Luiz Firmino, condenado a 17 anos de prisão; Joelton Gusmão de Oliveira, com pena igual; e Rodrigo de Freitas Moro Ramalho, sentenciado a 14 anos. Assim como Correa, Firmino foi interceptado enquanto tentava atravessar para o Chile.
A análise dos pedidos de refúgio, teoricamente imune a interferências políticas, ainda não teve qualquer decisão oficial divulgada. Se aprovados, esses pedidos podem impedir as extradições, oferecendo aos foragidos uma proteção legal contra o retorno ao Brasil.
O caso evidencia as complexas conexões entre os atos golpistas no Brasil e suas repercussões internacionais, especialmente na Argentina, onde a influência política de Milei pode moldar os desdobramentos dessas questões.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil