E a luta das mulheres nunca foi tão grande e necessária…tanto assim, que não dá para descrever em poucas linhas todo esse universo. Mas, vale a pena a gente pontuar algumas passagens que costuram o enredo em torno da criação da data que celebra o Dia Internacional da Mulher – o 8 de março.

Fomos acostumadas a ouvir histórias do surgimento dessa data em decorrência de grandes incêndios em fábricas, no início do século 20. Quem aí nunca ouviu dizer que a data surgiu em homenagem às operárias estadunidenses, 129 mulheres, que morreram carbonizadas no dia 8 de março de 1957, numa fábrica têxtil, em Nova York?

Então, falam até que esse fato aconteceu em represália às greves e paralisações realizadas por essas trabalhadoras. Fato é que esse acontecimento, datado em 25 de março daquele ano, marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século. Mas, os fatos que levaram à criação da data são bem anteriores a esse.

Essas lutas foram pautadas pela indignação das mulheres à jornadas extenuantes, salários irrisórios, péssimas condições de trabalho, violência de todo tipo. Desde o final do século 19, mulheres de todas as raças e idades, mobilizadas por organizações femininas, a maior parte delas vindas de movimentos operários, já protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos.

A Revolução Industrial – com suas jornadas impostas de 15 horas diárias de trabalho e salários de fome – também foi um estopim do levante da mulherada. Nas fábricas, elas não aceitaram o trabalho infantil, que praticamente matava no ninho a possibilidade de uma vida digna para seus filhos e filhas.

A história nos conta ainda vários movimentos relevantes. Em 26 de agosto de 1910, por exemplo, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, em Copenhague, Dinamarca, a feminista alemã Clara Zetkin, levantou a bandeira em defesa do Dia das Mulheres, a ser celebrado anualmente, sem que fosse definida uma data específica. O objetivo aqui foi o de promover o direito ao voto feminino. Essa proposição ganhou a adesão de feministas de países tais como: Estados Unidos e Reino Unido.

Em 1911, no dia 25 de março, um incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, matou 146 trabalhadores/as: 125 mulheres e 21 homens. A fábrica empregava 600 pessoas, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, de 13 a 23 anos. Em face disso, houve o fortalecimento do Sindicato Internacional de Trabalhadores na Confecção de Roupas de Senhoras, conhecido pela sigla inglesa ILGWU.

Já a partir de 1913, as mulheres russas passaram a celebrar a data com manifestações realizadas sempre no último domingo de fevereiro. Em 8 de março de 1917, ainda na Rússia Imperial, foi organizada uma grande passeata de mulheres contra a carestia, o desemprego e as péssimas condições de vida. Como se pode ver, as russas soviéticas tiveram um papel central no estabelecimento do 8 de março como data comemorativa e de lutas.

Por “Pão e paz”, no dia 8 de março de 1917, no calendário ocidental, e 23 de fevereiro no calendário russo, mulheres tecelãs e mulheres familiares de soldados do exército tomaram as ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo). Elas foram de fábrica em fábrica convocando o operariado russo a se levantar contra a monarquia. Assim, também pediam o fim da participação da Rússia na I Guerra Mundial.

Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) designou o Ano Internacional da Mulher, e o 8 de março foi adotado como o Dia Internacional da Mulher, com a finalidade de lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, independentemente de divisões nacionais, étnicas, linguísticas, culturais, econômicas ou políticas.

Mas, a luta das mulheres segue em curso. Em 2008, a ONU lançou a campanha “As Mulheres Fazem a Notícia”. O objetivo central foi o de estimular a igualdade de gênero na comunicação social mundial. Aliás, podemos dizer que a busca por igualdade de gênero sempre esteve em alta. Talvez, até por isso, convencionamos chamar o 8 de março de ‘Dia Internacional de Luta das Mulheres’. Com isso, há um sentimento de resgatar o seu sentido original parcialmente modificado pelo caráter festivo e comercial. Hábitos tais como: distribuição de flores, de chocolates e outros mimos às mulheres estão bem longe do espírito aguerrido das mulheres socialistas revolucionárias, por melhores condições de trabalho, dignidade, igualdade, contra a violência, a desigualdade, o patriarcado, o sistema capitalista e pelo voto feminino.

A cada 8 de março, as mulheres trazem à tona todos esses questionamentos na expectativa de aglutinar a sociedade em torno dessas pautas tão necessárias e importantes. Atualmente, a data é comemorada em mais de 100 países — como um dia de protestos, em que as trabalhadoras, em todo o mundo, se organizam em defesa de seus direitos. Portanto, essa data foi forjada a partir de uma rica história de luta das mulheres, lutas essas que continuarão em curso até que alcancemos a tão sonhada igualdade.

*Em tempo*: um parêntese para dizer que, nesse mês de março, com o melhor espírito de fazer acontecer a luta das mulheres, acontece o Encontro Mineiro de Mulheres com Deficiência, em Belo Horizonte. O evento está marcado para os dias 24 e 25 com temáticas diversas: Inclusão, empreendedorismo, feminismo, beleza, mercado de trabalho, violência e preconceito. Durante o encontro haverá um desfile de moda dirigido pelo estilista brasileiro de renome internacional, Renato Loureiro. Será um intento virtual e presencial, promovido pelo “Inclusive Nós”, sob a direção da ativista Rosana Bastos.

Esse encontro tem um objetivo muito importante: “trazer luz sobre temas relacionados à mulher com deficiência e sua presença na sociedade, além de discutir as diversas faces do capacitismo, que é o preconceito em relação às pessoas com deficiência.”

Além disso, Rosana Bastos me disse que o encontro vai além da ação assistencial. Ele está em consonância com “Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS), principalmente com os ODSs 5, 8 e 10, que tratam da redução das desigualdades, trabalho decente, crescimento econômico e igualdade de gênero.

As inscrições já estão abertas pela plataforma Sympla – é só acessar, se inscrever, participar e ajudar a promover os direitos da mulher com deficiência.

Um abraço,

Vera Lima Bolognini – jornalista


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