Após enfrentar críticas por não intervir no mercado cambial durante o início de agosto, quando o dólar chegou a R$ 5,74, o Banco Central decidiu agir. A instituição anunciou que realizará um leilão de venda de dólares à vista nesta sexta-feira, 30, com um limite de US$ 1,5 bilhão. O último leilão à vista ocorreu em abril de 2022.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou recentemente que a instituição estava sempre preparada para atuar no mercado de câmbio quando necessário. Ele mencionou que, em alguns momentos, chegaram perto de intervir, destacando a prudência da autoridade monetária.
Os analistas já tinham recebido sinais de que o Banco Central estava disposto a agir para evitar uma corrida ao dólar. Ontem, Gabriel Galípolo, recentemente indicado à presidência do BC pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, também reforçou essa posição.
Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, apontou que existe uma expectativa de saída de cerca de US$ 1 bilhão nesta sexta-feira, devido ao rebalanceamento do fundo americano EWZ (MSCI Brazil ETF), que passará a incluir ações brasileiras listadas no exterior, como XP e Nubank. Essa movimentação pode desestabilizar o mercado, levando o BC a intervir.
O leilão desta sexta-feira é a primeira intervenção do Banco Central no segmento à vista desde abril de 2022, quando vendeu US$ 571 milhões. A intervenção ocorre após quatro pregões consecutivos de alta do dólar, que fechou a R$ 5,62 na quinta-feira, acumulando um ganho de 2,62% na semana.
Analistas atribuíram a recente valorização do dólar a dados econômicos fortes dos EUA, que diminuíram as expectativas de um corte agressivo de juros pelo Federal Reserve em setembro. Também há incertezas quanto aos próximos movimentos do Comitê de Política Monetária (Copom), especialmente após a indicação de Galípolo para substituir Campos Neto.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, observou que o Banco Central agiu diante do que considerou uma alta disfuncional do dólar. A venda de dólares pelo BC demonstra que a instituição não permitirá que o câmbio seja manipulado para justificar uma possível alta da taxa Selic.
O Banco Central tem reiterado que suas intervenções no mercado ocorrem apenas em situações de disfuncionalidade, como falta de liquidez ou demanda pontual por dólares, e não para definir um nível ideal para a moeda ou combater a alta do câmbio devido ao aumento dos prêmios de risco.