A expressão “Reich do Silício”, criada pelo jornalista Corey Pein em 2014 no site The Baffler, inicialmente parecia apenas uma provocação retórica sobre o crescimento de ideias autoritárias no Vale do Silício. No entanto, o conceito ganhou força à medida que bilionários da tecnologia, como Elon Musk e Peter Thiel, demonstraram simpatia por visões políticas extremas.

Elon Musk, o homem mais rico do mundo, aproveitou a posse de Donald Trump para sinalizar alinhamento com ideias autoritárias. Sua saudação no evento deixou pouco espaço para interpretações. Testar o gesto em uma sinagoga, como sugerido no artigo original, exemplifica a gravidade simbólica de suas ações.

Musk não estava sozinho. J.D. Vance, o vice-presidente dos Estados Unidos na gestão Trump, também ecoou essas ideias. Vance já citou positivamente Curtis Yarvin, conhecido como Mencius Moldbug, que defende uma “monarquia corporativa”, na qual um CEO governaria o país com mais eficiência que políticos tradicionais. Contudo, essa visão ignora que a eficiência das empresas se deve às instituições de mercado, competição e informações transmitidas pelos preços — elementos que não existem no funcionamento de um Estado.

O principal mentor intelectual de Vance é Peter Thiel, investidor influente na indústria de tecnologia. Em 2009, Thiel declarou, em artigo para o think tank conservador Cato Institute, que liberdade e democracia eram incompatíveis. Ele culpava o aumento da regulamentação financeira após a crise de 2008 e o interesse popular por maior intervenção estatal, argumentando que essas mudanças ameaçavam o ideal libertário.

Thiel também criticava transformações sociais desde os anos 1920, como o aumento do número de beneficiários de programas sociais e a conquista do direito ao voto pelas mulheres, que, em sua visão, dificultaram a ascensão política de libertários.

Para escapar dessas “restrições”, Thiel propôs três soluções: explorar o ciberespaço como um território livre de regulamentações, expandir a colonização para outros planetas ou criar países artificiais no oceano, conhecidos como “seasteading”, onde utopias libertárias poderiam ser experimentadas.

Embora tais ideias pareçam distantes, a eleição de Trump trouxe aos bilionários do “Reich do Silício” uma oportunidade de implementar suas visões em solo americano. Musk, Thiel e outros aproveitaram o momento para influenciar políticas e moldar um ambiente sem regras, desregulado e desconectado de princípios democráticos.

O fascínio desses empresários pela concentração de poder demonstra o distanciamento entre a elite tecnológica e os valores democráticos. Enquanto eles buscam novas fronteiras para implementar suas utopias, resta aos defensores da democracia observar criticamente o impacto de suas ideias e ações na sociedade. Afinal, o autoritarismo disfarçado de eficiência é um risco que nenhuma democracia pode ignorar.

 

Foto: Mike Segar

 


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *