O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou na noite desta terça-feira, 6, rumo à Rússia e à China com o objetivo de diversificar as relações comerciais do Brasil e reforçar os laços diplomáticos. A partida ocorreu às 22h, na Base Aérea de Brasília. Em Pequim, Lula participará da cúpula entre a China e os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), além de realizar uma visita de Estado com previsão de assinatura de ao menos 16 acordos bilaterais.

“A lista de acordos é prolífica e variada”, afirmou o embaixador Eduardo Paes Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, durante coletiva de imprensa nesta terça-feira. Saboia destacou ainda que outros 32 atos estão em negociação e poderão ampliar o número de compromissos firmados durante a viagem.

A China mantém sua posição como principal parceiro comercial do Brasil, com saldo superavitário para os brasileiros, além de desempenhar papel relevante como investidor no país. A relação bilateral é marcada por alto nível de institucionalização.

Este será o terceiro encontro de Estado entre Lula e o presidente chinês Xi Jinping desde o início do atual governo. O mais recente ocorreu em novembro de 2024, quando Xi visitou Brasília. “Após a visita do presidente Xi, ficou clara a intenção de explorar novas vertentes de cooperação. Há uma força-tarefa dedicada a alinhar as estratégias de desenvolvimento do Brasil com iniciativas chinesas como o Cinturão e Rota”, explicou Saboia. Ele acrescentou que a agenda também incluirá temas como defesa do multilateralismo, reforma da governança global e promoção de soluções pacíficas para conflitos internacionais.

A comitiva de Lula contará com a presença de diversos ministros e parlamentares, refletindo a importância e a densidade da relação Brasil-China. “Há uma mobilização de toda a Esplanada, coordenada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, com participação do Ministério da Fazenda e do Banco Central, para intensificar as parcerias com a China nas áreas de infraestrutura, finanças, ciência, tecnologia e inovação”, destacou Saboia.

Entre as prioridades, o governo brasileiro busca atrair investimentos chineses para projetos de neoindustrialização, capacitação tecnológica e transição energética. A viagem ocorre em meio à intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, caracterizada por sucessivas imposições de tarifas entre as duas maiores economias do mundo, iniciadas durante a gestão do ex-presidente norte-americano Donald Trump.

Apesar das tensões comerciais globais, o embaixador Saboia reiterou que o Brasil mantém uma postura equilibrada. “O Brasil e a China compartilham uma agenda ampla, que vai além das preocupações conjunturais. Valorizamos também as relações sólidas com os Estados Unidos e não enxergamos nossa parceria com a China como um contraponto a esses laços”, declarou.

A secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan, ressaltou que a participação de Lula na cúpula China-Celac reflete o compromisso do presidente com a integração regional. Ela também destacou o reconhecimento do presidente Xi Jinping sobre a capacidade do Brasil de promover diálogo e cooperação na América Latina e Caribe. “Os dois lados demonstram grande interesse em fortalecer esse diálogo. O Brasil tem a responsabilidade, não necessariamente de liderar, mas de convocar, propor e mobilizar sinergias regionais. Pretendemos, inclusive, avançar no diálogo com a América Central”, afirmou Padovan.

A Celac reúne 33 países da região. Logo após assumir seu terceiro mandato, em 2023, Lula anunciou o retorno do Brasil ao bloco, encerrando um período de três anos de afastamento.

Antes de sua passagem pela China, Lula visitará a Rússia entre os dias 8 e 10 de maio. A convite do presidente Vladimir Putin, ele participará das comemorações pelos 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. As celebrações incluem o tradicional desfile cívico-militar em Moscou, no dia 9 de maio, considerado o feriado mais importante do país.

Durante sua estadia na Rússia, Lula também terá uma reunião bilateral com Putin, na qual devem ser assinados atos de cooperação nas áreas de ciência e tecnologia. A comitiva brasileira contará com os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação).

O embaixador Saboia destacou que a relação comercial entre Brasil e Rússia é estratégica, com importações brasileiras concentradas em fertilizantes e diesel, enquanto as exportações incluem principalmente produtos do agronegócio. No entanto, o Brasil registra déficit nessa balança comercial. “Nosso objetivo é reequilibrar a balança e ampliar as exportações brasileiras para a Rússia”, explicou.

Sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, Saboia reiterou a posição brasileira de respeito ao direito internacional, defendendo princípios como a integridade territorial dos Estados e a busca por soluções pacíficas. Ele lembrou que a diplomacia brasileira mantém diálogo com todas as partes envolvidas no conflito.

Ainda em Moscou, está prevista uma reunião bilateral entre Lula e o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico.

Foto: Ricardo Stuckert / PR

 

 

 


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