A disputa pela Prefeitura de Juiz de Fora, uma das mais acirradas e estratégicas da Zona da Mata mineira, ganhou contornos nacionais com a aliança entre Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás, e Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais. A união dos dois governadores, que são vistos como potenciais candidatos à presidência em 2026, tem como foco fortalecer a candidatura da deputada federal Ione Barbosa (Avante), que enfrenta adversários apoiados por figuras de peso como o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No dia 16 de julho, Caiado fez uma visita a Juiz de Fora, marcando presença no lançamento da campanha de Ione. A presença do governador de Goiás, cujo estado está a cerca de 1.100 quilômetros de distância, chamou atenção e levantou questionamentos. A assessoria de Caiado não esclareceu oficialmente o motivo da viagem, que coincidiu com uma palestra que ele proferiu no Rio de Janeiro. Contudo, fontes políticas indicam que a visita foi estrategicamente alinhada com Zema, que também apoia Ione, e tinha como objetivo discutir a escolha do vice em sua chapa.
A decisão de apoiar Ione foi consolidada após uma intervenção da executiva nacional do União Brasil, que inicialmente era contrária à aliança. A articulação envolveu deputados federais do partido que facilitaram a aproximação entre Ione e Caiado. A união com o União Brasil, no entanto, trouxe complicações jurídicas. O Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) entrou com uma ação de impugnação da candidatura devido a irregularidades no registro do vice, o professor Manfrini, filiado ao União Brasil. Segundo o MP-MG, a convenção do partido que oficializou a indicação de Manfrini foi realizada um dia após o prazo estipulado pela Justiça Eleitoral, levantando suspeitas de fraude.
Essa aliança se torna ainda mais crucial considerando que Juiz de Fora é uma das prioridades eleitorais do PT, sendo a segunda maior cidade administrada pela legenda em todo o Brasil, atrás apenas de Contagem, também em Minas Gerais. A importância da cidade para o PT ficou clara durante a visita de Lula a Minas Gerais em junho, onde ele expressou seu apoio à atual prefeita e candidata à reeleição, Margarida Salomão (PT). Lula reconheceu publicamente que a visita foi planejada antes das restrições impostas pela legislação eleitoral.
Além de Ione e Margarida, a disputa pela Prefeitura de Juiz de Fora inclui o ex-deputado federal Charles Evangelista, que conta com o apoio de Jair Bolsonaro. Bolsonaro, que tem uma forte conexão com a cidade devido ao atentado que sofreu ali em 2018, durante sua campanha presidencial, planeja retornar a Juiz de Fora para um comício em 6 de setembro, data que marcará seis anos do incidente. No dia seguinte, ele estará em Belo Horizonte para apoiar Bruno Engler (PL) na corrida pela prefeitura da capital mineira, onde o atual governador Zema está alinhado com Mauro Tramonte (Republicanos), o líder nas pesquisas.
A aliança entre Caiado e Zema em apoio a Ione Barbosa é vista como uma estratégia para contrapor as forças de Lula e Bolsonaro em Minas Gerais, tornando a eleição em Juiz de Fora um cenário de disputa nacionalizada, onde os interesses locais e nacionais se entrelaçam em uma batalha política que promete ser intensa até o último voto.
Com informações da Folha