O comandante do Exército, Tomás Miguel Paiva, não foi comunicado pela Polícia Federal sobre a prisão do general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022. A prisão ocorreu na manhã de sábado, 14, mas na noite anterior, Paiva recebeu apenas um pedido para que o Exército designasse oficiais de contato no Rio de Janeiro e em Brasília. Fontes do Alto Comando informaram que, até então, era costume avisar o comandante previamente.
Embora sinais apontassem para uma possível prisão, Paiva foi surpreendido e tomou ciência do ocorrido apenas no início da manhã. Ele conversou com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que também não tinha sido informado. Entre os oficiais do Alto Comando, a prisão de Braga Netto é vista como um fator de tensão, especialmente na reserva, onde o clima de insatisfação cresce com os desdobramentos das investigações. Na ativa, no entanto, prevalece a ordem de evitar manifestações.
Apesar de haver solidariedade entre os militares, o conceito que prevalece é que Braga Netto se envolveu em uma trama golpista amplamente condenada pela população. Assim, não há disposição entre os oficiais de contrariar ordens superiores para defendê-lo. A prisão do general reforça a gravidade da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid e confirma as tentativas de Braga Netto de interferir nas investigações, como apontado pela Polícia Federal.
Outro general reformado, Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, também indiciado, tem evitado ações mais evidentes. Segundo informações, Heleno trocou seu número de telefone e restringiu contatos. Já Braga Netto buscava informações sobre a delação de Mauro Cid por meio de seu ex-assessor, o coronel da reserva Flávio Peregrino. A PF realizou buscas na casa de Peregrino, que também é alvo de medidas cautelares.
A prisão de Braga Netto também acirrou as tensões entre o Exército e a Polícia Federal. O Exército reclama que a PF ainda não assumiu o controle das licenças para Colecionadores de armas, Tiro Desportivo e Caça (CACs), como prevê um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A PF, por sua vez, argumenta que a falta de verba impede a execução dessa responsabilidade.
A principal dúvida agora é se as investigações alcançarão o ex-presidente Jair Bolsonaro. A cada nova operação surgem evidências que apontam para ordens diretas de Bolsonaro ou de pessoas próximas a ele. Caso Braga Netto opte por seguir o exemplo de Mauro Cid e faça uma delação premiada, o futuro do ex-presidente, inelegível até 2030, poderá se tornar ainda mais incerto e desfavorável.
Foto: Wilton Junior