O mercado de apostas esportivas no Brasil tem crescido exponencialmente, e, junto com ele, o nível de endividamento da população. Uma pesquisa realizada pela fintech Klavi revelou que 30% dos brasileiros com contas em bancos buscaram empréstimos nos últimos 12 meses para financiar apostas em plataformas de “bets”.

A pesquisa analisou o comportamento de crédito de 5 mil clientes em todo o país, observando seus gastos em sites de apostas e jogos de azar por meio de dados fornecidos pelo Open Finance. O levantamento mostrou que o gasto médio dos apostadores que pegaram empréstimos foi de R$ 1.113,09, mas em alguns casos, os valores chegam a ser significativamente maiores. Cerca de 5% dos apostadores gastaram aproximadamente R$ 4 mil, enquanto alguns gastaram mais de R$ 50 mil antes de recorrerem a crédito bancário.

Segundo Bruno Chan, presidente da Klavi, grandes bancos e financeiras estão interessados em entender como as apostas online impactam as finanças de seus clientes, especialmente no que diz respeito à análise de crédito. Ele explica que a empresa deve continuar acompanhando mensalmente o impacto das apostas no endividamento da população.

Desde a liberação dos jogos online no Brasil em 2018, o mercado de apostas cresceu rapidamente, com cerca de 2 mil empresas operando no país. No entanto, a partir de 1º de outubro, as casas de apostas que não regularizarem sua situação serão proibidas de funcionar. O mercado de “bets” já movimenta aproximadamente R$ 100 bilhões, o equivalente a quase 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, segundo estimativas da Strategy & Brasil, consultoria estratégica da PwC.

A pesquisa da Klavi revelou que a maioria dos clientes que solicitam crédito para apostar são homens (58%), com idades entre 35 e 49 anos (47%) e 26 a 34 anos (28%). A maior concentração desses apostadores está na região Sudeste, onde 60% do público reside. Além disso, 64% dos entrevistados ganham entre um e três salários mínimos, e 40% possuem emprego formal com vínculo CLT.

O levantamento também destacou que muitos apostadores não utilizam “dinheiro sobrando” para as apostas, mas sim recorrem a empréstimos. Os valores solicitados variam entre R$ 500 e R$ 4 mil, evidenciando uma relação preocupante entre a prática de apostas e a busca por crédito. O presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Pedro Afonso Gomes, ressalta que o crescimento dos empréstimos para apostas está relacionado à falsa crença de que é possível multiplicar o dinheiro rapidamente, embora as chances de sucesso sejam mínimas.

Gomes também alerta para os efeitos negativos do endividamento causado pelas apostas, como o aumento da inadimplência e o encarecimento de produtos financeiros. Quanto maior o número de pessoas que se endividam e deixam de pagar suas dívidas, maior é a pressão sobre as taxas de juros em determinados segmentos.

O impacto do crescimento do número de apostadores vai além da inadimplência. O Banco Central divulgou recentemente que cinco milhões de pessoas, beneficiárias do Bolsa Família, enviaram R$ 3 bilhões via Pix para plataformas de apostas. A instituição afirma que está atenta ao fenômeno e que precisará de mais tempo e dados para avaliar suas implicações econômicas e financeiras.

Vicente Guimarães, presidente da VG Research, destaca que, além da inadimplência, o vício em apostas também é um problema de saúde pública, muitas vezes exigindo tratamento especializado. Ele explica que a prática de apostas gera uma dependência química, e que por isso existem programas de assistência para jogadores compulsivos. Segundo ele, a educação financeira deve incentivar o “jogo zero”, já que não há limite aceitável para o vício nas vidas das pessoas.


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