Com pouco mais de seis meses para o término do mandato de Gleisi Hoffmann na presidência do Partido dos Trabalhadores (PT), as articulações internas para a sucessão já indicam um novo caminho para a legenda. Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara (SP), ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) e ex-tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff, surge como o nome mais forte para assumir o comando do partido.

A possível escolha de Edinho representa mais do que uma simples mudança de liderança. Sua chegada à presidência do PT pode marcar uma inflexão estratégica, com o objetivo de atrair forças políticas de centro e consolidar a viabilidade da reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2026. Esse movimento também pode significar um afastamento do estilo combativo que caracterizou o partido nos últimos anos, especialmente nas disputas com Jair Bolsonaro.

À frente do PT desde 2016, Gleisi Hoffmann liderou o partido em momentos críticos, como a Operação Lava Jato, a prisão de Lula e sua posterior soltura, além da vitória presidencial em 2022. Apesar de sua trajetória de liderança firme, seu estilo combativo começou a ser questionado dentro do partido, especialmente em relação à necessidade de reposicionar o PT no cenário político.

A articulação para a sucessão de Gleisi tem acontecido à margem de sua liderança. Embora a escolha oficial do novo presidente só ocorra em julho de 2025, há pressão de setores internos para antecipar o fim de seu mandato. Entretanto, Gleisi tem defendido um processo mais amplo, incentivando que outros nomes se apresentem como alternativas viáveis, especialmente representantes do Nordeste, região onde o PT teve bom desempenho nas eleições municipais.

Entre os possíveis concorrentes, destaca-se o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), embora sua candidatura não tenha alcançado o consenso que Edinho já consolidou. Por outro lado, Edinho conta com o apoio de figuras importantes, como os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Fernando Haddad (Fazenda), além do ex-presidente do PT José Dirceu.

Edinho Silva defende um reposicionamento do PT para alcançar setores da sociedade que se distanciaram do partido, incluindo a juventude, a classe média, o agronegócio e grupos religiosos, especialmente os evangélicos. Em textos e entrevistas, ele tem criticado a postura de polarização exacerbada adotada pelo partido, argumentando que ela alimenta disputas que favorecem a extrema direita.

Em um documento enviado ao diretório do PT de Araraquara, Edinho escreveu: “Mesmo com a vitória de 2022, não conseguimos sair da dinâmica da polarização. Muitas vezes a alimentamos, sendo arrastados para debates que só interessam à direita fascista”.

Essa visão, porém, encontra resistência dentro do PT. Para lideranças como o deputado Lindbergh Farias, que assumirá a liderança da bancada na Câmara, a polarização é inevitável no atual cenário político brasileiro. “Não é possível acabar com a polarização por mágica. Precisamos enfrentar e disputar espaço contra a extrema direita”, afirmou Lindbergh.

Apesar das divergências, há um consenso de que o próximo presidente do PT precisará unificar as diferentes correntes internas. A expectativa é que, mesmo em caso de disputa, o partido caminhe para uma convergência após a escolha do novo líder.

A decisão final sobre a sucessão no PT dependerá, em grande parte, do posicionamento de Lula. O presidente tem um histórico de influência decisiva nas escolhas internas do partido e, segundo aliados, tende a apoiar o nome que melhor se alinhar à sua estratégia para 2026.

Edinho tem demonstrado proximidade com Lula e outros membros da antiga guarda do PT, como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha e o ex-presidente do partido Ricardo Berzoini. Em entrevistas, ele defendeu que o PT resgate sua conexão com lideranças históricas que se afastaram da sigla nos últimos anos.

Como ex-ministro da Secom, Edinho tem experiência na construção de estratégias de comunicação, habilidade que será essencial para reposicionar o PT. Seu objetivo inclui melhorar o diálogo com setores que tradicionalmente resistem ao partido, como a classe média e o agronegócio.

Diferentemente de Gleisi, cujo estilo é marcado por enfrentamentos diretos, Edinho busca um perfil mais conciliador. Ele mantém diálogo com lideranças de centro e direita, incluindo figuras do Centrão. Em 2021, chegou a ser escalado para conversas com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, sobre as eleições presidenciais.

Essa abordagem, porém, também gera críticas internas. Setores do PT alertam que uma postura excessivamente conciliadora pode diluir a identidade do partido e comprometer sua capacidade de mobilizar a base eleitoral. “É preciso cuidado ao dialogar com setores que historicamente se opõem ao PT. Em alguns casos, isso mais atrapalha do que ajuda”, ponderou o deputado Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do partido.

Edinho também fez uma avaliação crítica do desempenho da esquerda nas eleições municipais de 2024, apontando para um movimento progressivo da sociedade em direção à direita e à centro-direita. Segundo ele, mesmo onde o PT venceu, as vitórias foram marcadas por intensa polarização.

Em texto divulgado após o pleito, ele destacou a necessidade de o PT se adaptar às mudanças no comportamento eleitoral e de construir novas pontes com grupos que têm se afastado da esquerda. “Precisamos compreender a movimentação da juventude, que no passado tinha o PT como referência e agora não tem mais”, afirmou.

A escolha do novo presidente do PT terá impacto direto na estratégia para a reeleição de Lula. Enquanto Gleisi representa um perfil de enfrentamento e mobilização da militância, Edinho aposta em uma abordagem mais ampla, capaz de atrair eleitores moderados e criar alianças com partidos de centro.

Embora suas propostas ainda gerem controvérsias internas, Edinho conta com apoios estratégicos que reforçam sua posição como favorito. A adesão de líderes como Jaques Wagner (PT-BA) enfraquece a tese de que o partido deveria buscar um representante do Nordeste, região que permanece um bastião petista.

Com um cenário político polarizado e o avanço de forças de direita, o PT enfrenta o desafio de equilibrar sua identidade histórica com a necessidade de renovação. A escolha de Edinho Silva como novo presidente pode representar um marco nesse processo, mas também exigirá habilidade para superar as resistências internas e alinhar o partido aos desafios futuros.

Seja qual for o desfecho, o próximo líder do PT terá a missão de preparar o partido para um cenário político complexo, em que a comunicação, a articulação e a estratégia serão determinantes para o sucesso nas urnas.

Foto: Ricardo Stuckert/PR

 

 


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