Pelo nono mês consecutivo, o indicador que mensura as dívidas das famílias belo-horizontinas registrou uma nova retração. É o que aponta a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de Belo Horizonte, elaborada pelo Núcleo de Pesquisa e Inteligência da Fecomércio MG, com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em março, 89,7% dos consumidores da capital mineira estavam endividados, 0,6 pontos percentuais (p.p.) a menos que no mês anterior (90,3%). O resultado é o menor apurado nos últimos doze meses.

A economista da Fecomércio MG, Gabriela Martins, destaca que a queda do endividamento das famílias belo-horizontinas pode estar atrelada a diversos fatores. “O mercado de trabalho aquecido permite que haja um maior nível de renda disponível entre as famílias, fazendo com que o consumo possa ser feito de maneira à vista e as dívidas já existentes possam ser pagas. Acrescido a isso, temos uma redução os preços atrelados a habitação, artigos de residência e despesas pessoais, o que corrobora ainda mais para a saúde financeira dos consumidores”.

A principal modalidade de dívida continua sendo o cartão de crédito. Em março, 92,9% dos consumidores optaram por esta forma de pagamento. “O cartão é comumente utilizado para complementar a renda e é uma ferramenta de crédito de fácil acesso e utilização. O seu uso desregulado pode ser um grande risco, pois esta modalidade possuí um juro de até 100,0% no crédito rotativo”, explica Martins.

Outras modalidades de dívidas citadas pelos entrevistados foram: os carnês (25,1%), o financiamento de carro (11,5%), o cheque especial (9,8%), o crédito pessoal (6,6%), o financiamento imobiliário (5,6%) e o crédito consignado (3,3%). “Nos últimos meses, os percentuais relacionados aos empréstimos e financiamentos tem oscilado bastante. Não por acaso, o uso do financiamento de automóveis registrou uma expansão de 4,2 pontos em relação ao mesmo período do ano passado, quando o indicador atingiu 7,2%. Esse resultado é importante para o comércio, pois mostra que os consumidores estão dispostos a assumirem compromissos financeiros para suprir suas demandas. Por outro lado, é fundamental que as famílias tenham cuidado com a contratação de empréstimos, garantindo sempre a capacidade de pagamento sem comprometer a renda necessária para subsistência”, alerta Gabriela.

Apesar da retração no endividamento, o percentual de consumidores que afirmam não ter condições de quitar a dívida apresentou uma elevação nos últimos meses, atingindo 13,2% da população em março, 1,4 p.p. acima do registrado em fevereiro (11,8%). “É certo que está havendo uma retração nos índices de preço gerais, no entanto, os gastos com alimentação e transporte tem se elevado bastante nos últimos meses. Esses gastos, por serem essenciais, quando se elevam substancialmente podem afetar diretamente a capacidade das famílias em pagarem suas dívidas. As taxas de juros, que ainda se encontram em patamares elevados, também são um ponto crítico para quem já está com suas dívidas em atraso”, afirma Martins.

O percentual de consumidores com contas em atraso também se elevou, assumindo 50,3% das famílias em março. Na capital mineira, o endividamento representa mais de 10% da renda familiar em 81,8% dos casos, sendo que esse percentual atinge 50% do orçamento mensal para 15,1% dos entrevistados. Em média, o tempo de comprometimento da renda é de sete meses.

A Peic retrata o comprometimento da renda familiar com financiamento de imóveis, carros, empréstimos, cartões de crédito, lojas e cheques pré-datados, bem como a capacidade de pagamento dos consumidores da capital mineira. Para elaborar a pesquisa de março, foram entrevistadas mil famílias residentes na capital mineira. A margem de erro da Peic, realizada nos últimos dez dias de fevereiro, é de 3,5%, e o nível de confiança é de 95%.


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