O julgamento sobre o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, avançou no Tribunal Superior de Londres, com o depoimento do engenheiro especialista em geotecnia, Dr. Allen Marr. Indicado pela defesa da BHP, ele prestou esclarecimentos sobre as decisões de engenharia e gestão da segurança antes do desastre.
Em seu testemunho, Dr. Marr confirmou que a falha estrutural teve início no lado esquerdo da barragem, onde a galeria de drenagem secundária apresentava sinais de comprometimento. Para mitigar o risco, foi implementada uma solução temporária conhecida como setback, que consistia no recuo da estrutura para redistribuir a carga e bloquear a galeria danificada. Contudo, essa medida provisória permaneceu por três anos sem uma análise formal de estabilidade, o que agravou a situação.
O especialista classificou a permanência do setback sem estudos aprofundados como “muito infeliz” e uma falha grave na gestão da segurança. Ele também destacou que relatórios internos apontavam a ausência de monitoramento técnico detalhado sobre os impactos dessa mudança na barragem.
Outro ponto abordado foi a largura mínima da praia (beach width), essencial para garantir a drenagem eficiente e evitar a liquefação dos rejeitos. Segundo Dr. Marr, esse parâmetro não foi mantido conforme o projeto original, sendo classificado como uma “falha operacional grave” nos manuais da empresa.
Documentos apresentados durante o julgamento indicam que, poucos meses após o início da operação da barragem, já havia alertas sobre sua estabilidade. Questionado sobre a ausência de um plano robusto de monitoramento, Dr. Marr reconheceu que a solução adotada deveria ter sido acompanhada de estudos detalhados para evitar riscos à integridade da estrutura.
Em resposta às alegações, a BHP divulgou um comunicado reafirmando seu compromisso com a reparação dos danos e a compensação justa às vítimas do rompimento. A empresa negou que seus conselheiros na Samarco tenham sido alertados sobre riscos iminentes e ressaltou que os diretores indicados pela BHP receberam garantias de que a barragem estava sendo gerenciada adequadamente por engenheiros independentes.
A empresa também destacou o novo acordo firmado em outubro de 2024, no qual foram comprometidos R$ 170 bilhões para reparação dos danos, incluindo os R$ 38 bilhões já desembolsados anteriormente. Segundo a BHP, a implementação do acordo segue avançando e representa a forma mais eficiente de garantir a compensação das vítimas.
O desastre de Mariana gerou múltiplas ações judiciais contra as empresas envolvidas. Em janeiro de 2025, a Justiça britânica retomou o julgamento de um processo que busca responsabilizar a BHP pelo colapso da barragem e assegurar indenizações para aproximadamente 620 mil pessoas, entre indivíduos, comunidades e empresas. O valor total das reivindicações ultrapassa R$ 260 bilhões.
A acusação alega que a empresa falhou em agir preventivamente, permitindo que falhas conhecidas levassem ao desastre. O julgamento entra agora na fase de preparação das alegações finais, com novas audiências previstas para março e a expectativa de que a sentença seja divulgada ainda neste ano.
Foto: Rogério Alves/TV Senado