O governo brasileiro, além de focar na taxação de super-ricos, manifesta preocupação com a possibilidade de a Argentina, sob o governo de Javier Milei, alterar sua posição em relação ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Fontes oficiais confirmaram que as negociações estavam avançadas, com o bloco europeu sendo o principal responsável pelos próximos passos.
Desde 2019, quando um entendimento inicial foi alcançado após mais de duas décadas de negociações, ajustes importantes foram feitos. Entre eles, estão avanços em propriedade intelectual, agricultura, política industrial e compras governamentais. Segundo fontes brasileiras, o Mercosul conseguiu prazos mais longos para adaptar suas indústrias à competição com produtos europeus e obteve maior acesso ao mercado agrícola da UE.
Embora Milei tenha demonstrado apoio às negociações até agora, alinhado aos demais membros do Mercosul, há receios de que a aproximação de seu governo com os Estados Unidos e sua agenda de 2025 para um possível acordo de livre comércio com o país norte-americano possam mudar esse cenário. Caso isso ocorra, não apenas o entendimento com a UE seria comprometido, mas Milei também infringiria as normas internas do Mercosul, que proíbem acordos unilaterais.
O governo brasileiro pretende acelerar os preparativos para que o acordo com a UE seja anunciado na cúpula do Mercosul, marcada para dezembro, em Montevidéu. Durante o último encontro, no Paraguai, Milei não esteve presente. Apesar da expectativa de que ele mantenha a postura favorável adotada até agora, fontes diplomáticas alertam para a possibilidade de mudanças repentinas.
O sucesso do acordo também depende de decisões europeias, que enfrentam desafios internos, como a possível troca de governo na Alemanha e o fortalecimento da extrema-direita em países como a França. Neste sábado, o presidente francês Emmanuel Macron se encontrará com Milei na Argentina, buscando persuadi-lo a adotar uma postura de consenso antes da cúpula do G20. Após o encontro, ambos seguirão para o Brasil, onde participarão da reunião de chefes de Estado e governo.
Foto: Jeenah Moon/Bloomberg