Segundo dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens (CNC), a intenção de consumo das famílias (ICF) registrou uma queda de 0,6%, atingindo 103,2 pontos. Este é o 4º mês consecutivo de retração, além de também ser o menor nível desde março deste ano, que marcou a baixa de 104,1 pontos. O levantamento também revelou que famílias com a renda acima de 10 salários mínimos tiveram a queda de 1% na intenção de compras, já as que possuem uma renda inferior a 10 salários mínimos, apresentaram uma retração de 0,8%. Para Aline Soaper, educadora financeira, entre os principais fatores para o cenário negativo, estão a desaceleração econômica, o aumento da taxa Selic e o encarecimento do crédito.
“A taxa Selic provoca uma contração da oferta e o encarecimento do crédito, as consequências desse ajuste decidido pelo Banco Central, causa uma diminuição do poder de compra entre as famílias. Em contrapartida, por conta desse movimento, o aumento do custo de vida população é registrado. Com os juros mais altos, o cuidado para não se endividar é ainda maior entre os brasileiros, que evitam realizar dívidas de parcelamentos”, pontua a especialista em finanças pessoais.
Aline também explica que por conta da economia mais parada, os brasileiros têm menos dinheiro para gastar com o que não é classificado como necessidade básica. Já quando recebem algum valor extra, como o 13º salário ou bônus, esse valor é usado para abater dívidas, além de não ter dinheiro disponível. Através desse movimento, muitas pessoas não possuem um crédito disponível para comprar produtos e serviços financiados.
Dos sete tópicos utilizados para calcular Intenção de Consumo das Famílias (ICF), seis apresentaram uma queda em outubro ante setembro. Como o caso de emprego atual (1,1%); renda atual (0,6%); nível de consumo atual (1,2%); perspectiva de consumo (0,6%); acesso ao crédito (0,9%) e momento para duráveis (1,8%). Já em comparação com outubro de 2023, foram registrados quatro recuos em outubro desse ano. Foi o caso de perspectiva de consumo (4,1%); acesso ao crédito (0,6%) momento para duráveis (1,8%) e perspectiva profissional (4,1%).
“Com o aumento da inflação, as famílias começam a buscar por alternativas que possam se adaptar ao orçamento mais enxuto. Com isso, começam a reduzir as compras de alimentos ou trocam por opções que sejam mais acessíveis. Já os medicamentos, que dependendo da condição de saúde de cada membro da família, podem ser considerados como essenciais, começam a ser adquiridos em postos de saúde. Os medicamentos que são considerados como não regulares, não são adquiridos pela falta de recursos financeiros”, afirma Soaper.
A CNC, em seu relatório, detalhou que são as famílias de maior renda que estão apresentando uma maior cautela no consumo. A perspectiva de gastos entre os mais ricos caiu 1,5%, entre os principais motivos para o olhar mais minucioso em relação a compras, está a insegurança em relação à situação profissional e a preocupação em relação a situação financeira futura. Isso porque, no atual mercado de trabalho, a pesquisa registrou uma queda de 1,1% no emprego atual e redução de 4,1% na perspectiva profissional.
“Na verdade, o grande perigo está no atraso ou na falta de pagamento das prestações, porque os juros e multas por atrasos podem tornar a dívida uma bola de neve. Antes de realizar compras com um alto valor, por mais que tenha sido oferecido boas opções de parcelamento, é importante traçar objetivos e entender a capacidade de pagamento antes de assumir uma nova prestação. Uma boa estratégia, é adiar a compra, caso não seja um item de necessidade, e estabelecer prioridades para buscar os melhores preços no que realmente será indispensável gastar”, indica Aline Soaper.