As redes sociais são o principal motivo de insatisfação do presidente Lula (PT) na comunicação do governo federal. Por isso a CPI dos atos golpistas tem sido vista como um possível ponto de virada.
Lula tem cobrado uma mudança de atitude nas redes sociais. Em reuniões, o petista tem reclamado ao ministro Paulo Pimenta, da Secom (Secretaria de Comunicação Social), e a lideranças do PT que melhorem a visibilidade nesse meio digital.
Para o presidente, as ações do governo não ganharam repercussão suficiente. Lula tem falado com frequência que as conquistas só chegam a bolsonaristas —com um viés negativo, obviamente— e atingem pouco os apoiadores.
Segundo aliados, ele viu isso de uma forma clara quando o governo completou 100 dias. Ele esperava um eco maior nas redes com os pontos positivos alcançados. Não ficou satisfeito.
Aliados dizem ainda que falta ao governo e a apoiadores um “engajamento bolsonarista”, com maneiras mais modernas e eficazes de se comunicar digitalmente, sem com isso recair na agressividade dos partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Algumas crises foram criadas pelo próprio governo, caso de medidas anunciadas antes de terem sido combinadas com a Casa Civil, ou pela primeira-dama Janja da Silva, como no caso da taxação do e-commerce ou dos móveis comprados para o Palácio do Alvorada. Mas aliados apontam outros três pontos para a falta de alcance nas redes:
Durante a gestão de Bolsonaro, órgãos oficiais bloquearam em massa críticos do governo e treinaram o algoritmo das contas para se relacionarem com usuários de direita.
Domínio da direita e extrema direita nas redes sociais. No mundo inteiro, elas sabem usar melhor as técnicas de engajamento e pulverização de memes –e o Brasil não é exceção.
Bolsonaro tinha o chamado “gabinete do ódio”, um grupo paralelo à comunicação institucional que usava fake news e técnicas de linchamento virtual para conseguir mais engajamento e interações.
A CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Atos Golpistas, criada hoje no Congresso, está sendo vista como o ponto de virada para o governo. Para estrategistas, é a hora ideal para aliados tomarem a dianteira nas redes.
Inicialmente, Lula e petistas eram contra a CPMI, mas a divulgação de vídeos internos no Planalto, que culminaram na saída do general Gonçalves Dias, fizeram com que a estratégia fosse revista.
O ditado em Brasília é que se sabe como uma CPI começa, mas nunca se sabe como ela termina. Por isso, para os lulistas, caberá ao próprio governo dominar a narrativa e trazer a população “para o lado do presidente”.
O bate-boca visto na sessão de leitura do requerimento, com acusações de bolsonaristas ao PT e ao PSOL, já mostra que não vai ser tão simples.
Membros do governo e lideranças sabem que o caminho não é simples e têm falado isso ao presidente.
Segundo eles, Lula diz entender, mas argumenta que, “se eles conseguiram, nós também conseguimos”.
Há contudo uma ordem expressa: não usar as “técnicas odiosas” da gestão passada. Lula não quer que a atitude nas redes de seus aliados seja vista como um “bolsonarismo de sinal trocado”.
O governo avalia criar uma nova secretaria ligada às redes sociais, mas a ideia está longe de ser um consenso internamente.