O líder da Venezuela, Nicolás Maduro, reagiu com ironia nesta terça-feira (23/07) à manifestação de preocupação do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva com a conduta do regime chavista nas eleições presidenciais marcadas para o próximo domingo.
Na segunda-feira, Lula disse ter ficado “assustado” com a ameaça feita por Maduro de que a Venezuela será palco de um “banho de sangue” caso o chavismo saia derrotado no pleito. Maduro tentou ainda minimizar sua ameaça como uma “reflexão“.
“Eu não disse mentiras, apenas fiz uma reflexão. Quem ficou assustado deve tomar um chá de camomila, porque o povo da Venezuela está curado do medo e sabe o que estou dizendo. Na Venezuela, a paz, o poder popular, a perfeita união cívico-militar-policial triunfarão, aqui não vem nenhum [Javier] Milei”, disse Maduro num evento de campanha transmitido pelo canal estatal VTV, sem citar diretamente Lula.
Segundo a oposição venezuelana, que lidera as pesquisas, a ameça de Maduro é uma tática para provocar a abstenção entre aqueles que defendem sua saída do poder.
No mesmo dia, Maduro ainda atacou o sistema eleitoral do Brasil, adotando um tom semelhante ao usado pela extrema direita bolsonarista. “No Brasil, nem um único boletim de urna é auditado”, disse Maduro a uma multidão em outro evento de madrugada. “Temos o melhor sistema eleitoral do mundo. Tem 16 auditorias”, disse, em meio a temores entre a oposição que o regime vai tentar fraudar o resultado no caso de uma derrota.
Lula: “Quem perde tem de sair”
“Fiquei assustado com essa declaração“, disse Lula, um dia antes, numa entrevista a jornalistas estrangeiros, na qual revelou que conversou duas vezes com Maduro para adverti-lo de que “se ele quiser contribuir para resolver o problema de crescimento econômico da Venezuela e o retorno daqueles que saíram, ele tem que respeitar o processo democrático”.
Lula – um aliado que nos últimos meses passou a fazer críticas ao líder venezuelano – acrescentou que, numa democracia, “quem perde recebe um banho de votos, não um banho de sangue”, e que “Maduro tem que aprender que, quando você ganha, você fica, e quando você perde você sai e se prepara para outras eleições”.
Maduro, que insiste que permanecerá à frente do governo, afirmou que “salvou” a Venezuela de uma “guerra civil” várias vezes, sem detalhar em quais momentos e em quais circunstâncias.
“Eu disse que se os extremistas de direita, bolsonaristas, seguidores de Milei e Hitler chegassem ao poder político na Venezuela, haveria um banho de sangue. E não é que eu esteja inventando isso, não, é que já tivemos um banho de sangue nos dias 27 e 28 de fevereiro [de 1989, em referência ao famoso Caracazo]”, acrescentou Maduro.
No dia 16 de julho passado, num comício de campanha em Caracas, o mandatário venezuelano advertira que poderia haver um “banho de sangue” na Venezuela se o chavismo não vencesse as eleições. “O destino da Venezuela no século 21 depende de nossa vitória em 28 de julho. Se vocês não querem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida que é produto dos fascistas, vamos garantir o maior sucesso, a maior vitória eleitoral do nosso povo”, afirmara Maduro.
Amorim como observador
A declaração de Maduro gerou inúmeras críticas, pois foi vista como uma estratégia política para assustar os eleitores e fazê-los não votar no candidato presidencial da oposição majoritária da Venezuela, o ex-diplomata Edmundo González Urrutia.
O líder opositor agradeceu a Lula por seu apoio a “um processo eleitoral pacífico e amplamente respeitado na Venezuela”.
González Urrutia disse estar “satisfeito” com a decisão do Brasil de enviar seu ex-ministro das Relações Exteriores e atual assessor para assuntos internacionais, Celso Amorim, como observador do processo eleitoral no próximo domingo.
“O mundo está observando e nos acompanhando”, acrescentou o candidato, que lidera as pesquisas, de acordo com a maioria dos levantamentos, e que enfrentará nove concorrentes, entre eles Maduro, que busca uma segunda reeleição.
Para Lula, as eleições de domingo serão “a única oportunidade” para a Venezuela “voltar à normalidade” e se reintegrar à comunidade regional e internacional.
Além de Amorim, o Brasil enviará dois observadores da Justiça Eleitoral à Venezuela. Lula já defendeu uma grande presença de observadores internacionais e manifestou sua preocupação pública com o veto à candidatura da oposicionista María Corina Machado, posteriormente substituída como candidata por González Urrutia.