Uma pesquisa sobre hábitos dos brasileiros revelou a abrangência de uma espécie de mania nacional: quase 90% das pessoas acima dos 16 anos se automedicam. Quando fica doente, a gerente administrativo Thalita Souza recorre sempre à caixinha de remédios. “Dá dorzinha de garganta, mal-estar, tá incomodando, já vou ali. Tenho em casa mesmo”, conta.
“Eu tive uma crise alérgica terrível, eu não conseguia respirar, minha pele estava toda empolada. Isso foi por conta do remédio que eu tomei, acabei ficando mal e fui parar no hospital. Foi nisso que eu descobri que eu não posso tomar paracetamol”, lembra.
Cada vez mais brasileiros assumem esse risco. É o que revela uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade em parceria com o Datafolha. Responsável pelo estudo, o farmacêutico Ismael Rosa diz que o número de pessoas com 16 anos ou mais que tomam remédios por conta própria passou de 76% em 2014, e chegou a 89%, este ano.
“As pessoas precisam ficar atentas no mascaramento de doenças mais graves, nas interações medicamentosas. Esses medicamentos utilizados em conjunto podem causar reações gravíssimas de saúde, intoxicações e até mesmo serem fatais”, explica.
A prática é mais comum quando a pessoa sente dor de cabeça, gripe, resfriado, dores musculares, febre, tosse e dor de barriga. A pesquisa mostrou que a automedicação é maior entre os mais jovens. Na faixa entre 16 e 34 anos, 95% consomem remédios sem consultar um profissional de saúde. Já as pessoas com 60 anos ou mais se automedicam menos.
“Um dia todo mundo já fez isso, né? Mas hoje eu não compro mais”, confessa consumidora em farmácia. Também chamou a atenção dos pesquisadores o uso cada vez mais frequente da internet: 51% dos brasileiros fazem consultas em sites para tentar entender os sintomas e 47% procuram informações na rede para saber que remédio comprar na farmácia.
“A pessoa que não tem informação técnica lê um texto sobre um determinado assunto e a tendência dela entender aquilo de maneira inadequada e seguir as instruções de maneira inadequada é muito grande. Então whatsapp, conselho de vizinho, pseudoespecialista: tem que ter cuidado em relação a isso. A gente estuda anos para tentar dominar isso e tem dificuldade, mesmo sendo médico, imagina quem não tem nenhuma informação”, alerta Tarso Mosci, membro da Sociedade Brasileira de Geriatria.