O presidente do partido Novo, Eduardo Ribeiro, afirmou que o partido não descarta abrir mão de uma candidatura própria à Presidência da República em 2026, mesmo com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, como principal nome da legenda. Em entrevista ao jornalista Matheus Lara, do “Estadão, Ribeiro destacou que o Novo prioriza a união da direita em torno de uma candidatura com maior viabilidade eleitoral para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou seu eventual sucessor.

“O bolsonarismo vê Bolsonaro como a única e possível via de representar a direita. Já a direita da qual o Novo faz parte considera Bolsonaro apenas uma das opções, sem descartar novas lideranças como Zema, Ronaldo Caiado (União-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP)”, declarou.

Para Ribeiro, o sucesso da direita nas próximas eleições exige que conservadores e liberais superem divergências e se concentrem em uma candidatura viável. Ele ressaltou que o Novo não é um partido bolsonarista, mas reconhece que compartilha objetivos semelhantes com o bolsonarismo. “Precisamos deixar as diferenças no passado e nos agrupar em torno de forças que podem vencer a esquerda. Essa será a prioridade”, afirmou.

O dirigente reconheceu que o partido mantém sua identidade própria, mas defende uma visão pragmática para 2026. “Zema é um nome forte, mas nada está descartado. Se for necessário, estamos dispostos a apoiar outro candidato com maior viabilidade, mesmo que indicado por Bolsonaro ou oriundo de outro campo político”, disse Ribeiro.

A postura conciliadora vem em um momento de reestruturação do Novo, que tem buscado ampliar sua base municipal e estadual. O desempenho do partido nas eleições municipais de 2024, com o aumento de prefeituras e vereadores eleitos, foi destacado como um passo importante na consolidação da legenda.

Nas eleições deste ano, o Novo elegeu 19 prefeitos e 264 vereadores, um salto em relação aos números de 2020, quando conquistou apenas uma prefeitura e 35 cadeiras legislativas municipais. Ribeiro atribuiu o crescimento ao uso de recursos do fundo eleitoral, uma decisão controversa que gerou críticas internas, mas também fortaleceu a legenda.

“O uso do fundo eleitoral foi fundamental para nos tornarmos mais competitivos. Não abrimos mão da luta para reduzir ou extinguir esse recurso no futuro, mas precisamos jogar com as mesmas armas dos adversários enquanto ele existir. Foi uma escolha pragmática”, explicou.

Ribeiro destacou que, mesmo com a decisão de usar recursos públicos, o Novo dobrou o número de filiados em dez meses, alcançando 65 mil membros. “As críticas de que abandonamos nossa essência não se sustentam. As pessoas compreenderam que era necessário para disputar eleições e fortalecer o partido”, completou.

A crise de identidade enfrentada pelo Novo nos últimos anos, especialmente sobre a proximidade com o bolsonarismo, continua sendo um ponto sensível. “O Novo não é um partido bolsonarista. Somos de direita, mas priorizamos ideias e valores em vez de pessoas. Apesar disso, caminhamos em paralelo ao bolsonarismo em votações e posicionamentos, porque compartilhamos objetivos semelhantes”, afirmou Ribeiro.

Ele reconheceu que a decisão de não apoiar Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022 gerou divisões internas, mas acredita que foi a escolha certa. “Naquele momento, decidimos nos posicionar contra o PT, mas não a favor de Bolsonaro. Foi uma forma de manter a unidade do partido. Agora, precisamos olhar para frente e construir uma coalizão mais ampla para 2026.”

Romeu Zema é o principal nome do Novo para a disputa presidencial, mas Ribeiro enfatizou que o governador mineiro está disposto a contribuir para um projeto mais amplo, caso isso fortaleça a direita. “Zema tem resultados excelentes e é uma figura importante, mas ele entende que o mais relevante é a união em torno da candidatura mais viável. Não se trata de apego a nomes, e sim de construir um caminho para vencer”, disse.

O presidente do Novo acredita que 2026 pode trazer uma mudança de ciclo político, similar ao que ocorreu nos Estados Unidos com a vitória de Donald Trump nas eleições legislativas recentes. “Há um recado claro para a esquerda moderna: a classe média trabalhadora rejeita o identitarismo. Isso é um sinal de que o Brasil também pode trilhar um caminho semelhante, com uma liderança de direita forte”, avaliou.

Apesar do otimismo, Ribeiro reconheceu que há divisões significativas na direita, especialmente entre lideranças regionais como Caiado, Ratinho Júnior e Tarcísio de Freitas. O dirigente espera que, após a ressaca eleitoral de 2024, seja possível construir pontes entre esses líderes e superar atritos com o bolsonarismo.

O momento ainda é nebuloso, mas acredito que, com o tempo, as diferenças serão superadas. É essencial que todos se sentem à mesa para definir uma estratégia conjunta. Quanto menos divisão, melhor para a direita”, concluiu.

As eleições municipais deste ano também trouxeram lições importantes para a direita, segundo Ribeiro. “Comportamentos beligerantes não foram bem recebidos. O eleitor busca lideranças mais moderadas, que saibam dialogar e apresentar propostas viáveis. Essa é a direção que o Novo pretende seguir.”

Com a possibilidade de unir forças em torno de uma candidatura forte, Eduardo Ribeiro reforça que o partido está focado em construir uma base sólida para 2026. A disposição de abrir mão da candidatura de Zema, se necessário, demonstra o compromisso do Novo em contribuir para a consolidação de uma direita competitiva e capaz de vencer o atual cenário de polarização política.

Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG

 

 


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