A China continua expandindo seu arsenal nuclear e outros aspectos de suas Forças Armadas, apesar dos recentes escândalos de corrupção que abalaram o Exército de Libertação Popular. É o que revela o relatório anual do Pentágono, divulgado nesta quarta-feira (18), sobre o desenvolvimento militar de Pequim.
Segundo o Departamento de Defesa dos EUA, a Marinha chinesa está se transformando em uma força global, ampliando seu alcance para além do leste da Ásia. O documento também aponta que a China está investindo em mísseis balísticos intercontinentais equipados com armas convencionais, além de suas cerca de 135 ogivas nucleares de longo alcance, oferecendo mais opções para ameaçar o território continental dos Estados Unidos.
O relatório estima que a China adicionou cem ogivas nucleares ao seu arsenal no último ano, alcançando mais de 600 em meados de 2024. Embora ainda inferior aos arsenais nucleares de Rússia e EUA — cada um com 1.550 armas nucleares estratégicas sob um tratado válido até 2026 —, Pequim pode ultrapassar mil ogivas até 2030.
De acordo com o relatório, a China já concluiu a construção de três campos de mísseis contendo 320 silos em desertos no norte do país. Alguns desses silos já estão equipados com mísseis, enquanto outros estão sendo preparados para os intercontinentais Dongfeng-5, capazes de lançar múltiplas ogivas contra um inimigo.
Essa modernização, segundo o Pentágono, reflete a busca de Pequim por uma capacidade de infligir danos massivos em um eventual conflito nuclear. “A expansão da força nuclear da China permitirá atingir mais cidades, instalações militares e locais estratégicas dos EUA do que nunca em um possível contra-ataque nuclear”, aponta o documento.
Apesar de escândalos recentes envolvendo corrupção, o avanço militar da China não foi significativamente prejudicado. No mês passado, o almirante Miao Hua, da Comissão Militar Central, foi suspenso por suspeita de “graves violações da disciplina”. Em anos anteriores, outros altos comandantes militares também foram acusados de corrupção e substituídos abruptamente, incluindo lideranças da Força de Foguetes, responsável pelos mísseis nucleares chineses.
Ainda que os escândalos possam ter afetado os silos de mísseis, o relatório sugere que os problemas foram resolvidos. Os EUA monitoram essas instalações usando satélites e outras tecnologias avançadas.
O governo dos Estados Unidos, sob a administração Biden, tem fortalecido suas alianças na região da Ásia-Pacífico como resposta à expansão militar chinesa. Entre as estratégias estão acordos que dispersam forças americanas em pequenas ilhas e o uso de armas antinavio e mísseis de cruzeiro para conter o avanço de Pequim.
O relatório do Pentágono deve intensificar os pedidos de maior atenção ao crescimento militar chinês, especialmente com a possibilidade de Donald Trump retornar ao governo. Isso ocorre enquanto os EUA enfrentam múltiplos desafios geopolíticos, incluindo a guerra na Ucrânia e conflitos no Oriente Médio.
Grande parte da estratégia militar da China continua voltada para Taiwan, ilha democrática que Pequim considera parte de seu território. Embora os líderes chineses prefiram a reintegração pacífica, não descartam o uso de força militar. Recentemente, a China intensificou incursões aéreas e navais na região, pressionando o governo taiwanês.
No entanto, o Pentágono conclui que a China ainda não está preparada para invadir Taiwan de forma segura. Deficiências em combate urbano, essencial para tomar cidades na ilha, e na capacidade de manter suprimentos a longas distâncias dificultam qualquer tentativa de invasão anfíbia.
Uma invasão seria um “risco político e militar significativo” para o Partido Comunista e Xi Jinping, mesmo que conseguissem superar as defesas iniciais de Taiwan.
O relatório também analisa as implicações globais da expansão militar chinesa. O desenvolvimento nuclear sugere que os líderes do país buscam aumentar suas opções de dissuasão e ataque em uma eventual crise ou conflito com os Estados Unidos. Xi Jinping tem acelerado o fortalecimento militar da China em um ritmo sem precedentes, consolidando o país como uma potência global.
Ao mesmo tempo, o relatório destaca que a China tem interesse em provocar e testar a reação do Ocidente. O fortalecimento militar, combinado com a pressão sobre Taiwan, reflete o desejo de Pequim de consolidar sua influência regional enquanto desafia a hegemonia americana.
Os esforços dos EUA para contrabalançar a China incluem alianças estratégicas com países da região e um monitoramento constante das atividades chinesas. No entanto, o relatório ressalta que, sem ações coordenadas, Pequim pode continuar expandindo sua capacidade militar e nuclear de forma acelerada.
Embora o Exército de Libertação Popular enfrente escândalos internos, como os casos de suborno envolvendo antigos ministros da Defesa, esses problemas não têm freado o desenvolvimento militar do país. O relatório sugere que a corrupção nos altos escalões do exército é preocupante, mas que Xi Jinping tem conseguido manter o controle e avançar com suas reformas e modernizações.
O documento alerta para o impacto que o avanço nuclear e militar da China pode ter no equilíbrio de poder global, destacando a necessidade de vigilância constante e de estratégias eficazes para lidar com essa crescente ameaça.
Com seu arsenal nuclear em expansão, forças armadas modernizadas e ambições estratégicas crescentes, a China está moldando o cenário geopolítico de forma significativa, desafiando diretamente os interesses dos EUA e de seus aliados.
Foto: Han Lin / Xinhua