Segundo inquérito da Polícia Federal (PF) que apura o caso das joias sauditas, o grupo que atuou na venda ilícita das peças milionárias, recebidas como presente, teria agido para enriquecimento ilícito do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ainda conforme a investigação, os valores ultrapassaram a casa dos R$ 6.8 milhões.

O sigilo do caso das joias sauditas foi retirado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (8). O relatório de mais de 2 mil páginas detalha como teria ocorrido o esquema para desvio das joias. “Essa atuação ilícita teve a finalidade de desviar bens, cujo valor mercadológico somam o montante de US$ 1.227.725,12 ou R$ 6.826.151,661.”, detalha a PF.

A PF pediu indiciamento de Bolsonaro e mais 11 pessoas.

“Uso do estado para vantagens”

O relatório da Polícia Federal aponta que o objetivo principal do grupo era propiciar o enriquecimento ilícito de Jair Bolsonaro. O grupo teria utilizado o estado para obter vantagens com o desvio do acervo público brasileiro de presentes de alto valor. Doze nomes, com o de Bolsonaro, aparecem na lista da PF.

Bolsonaro usou verba para custear estadia nos EUA

A Polícia Federal (PF) aponta que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria utilizado a verba das joias para custear sua estadia nos Estados Unidos. Veja o que diz o relatório da PF sobre o uso do valor obtido com as joias:

“Tal fato indica a possibilidade de que os proventos obtidos por meio da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, que, após os atos de lavagem especificados, retornaram, em espécie, para o patrimônio do ex-presidente, possam ter sido utilizados para custear as despesas em dólar de JAIR BOLSONARO e sua família, enquanto permaneceram em solo norte-americano. A utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o “dinheiro sujo” à economia formal, com aparência lícita.”

Transferência de 80% do patrimônio

A PF indica que Bolsonaro transferiu quase 80% do montante depositado em suas contas no Brasil para os EUA. O relatório indica que esse movimento fez parte de uma estratégia.

O ex-presidente JAIR BOLSONARO decidiu sair do país com destino aos Estados Unidos. Dentro de sua estratégia, o ex-presidente levou para o exterior quase a totalidade de seus recursos financeiros, que estavam disponíveis para imediata movimentação, transferindo 80% do montante depositado em contas bancárias no Brasil para sua nova conta no Banco BB Américas, sediado em Miami/FL.”

Cid foi aos EUA tentar recuperar “kit de ouro branco”

Segundo a Polícia Federal, foram encontradas mensagens de WhatsApp em telefone apreendido que mostram que Mauro Cid realizou uma viagem aos Estados Unidos, em 27 de março de 2023, para tentar recuperar o denominado “kit de ouro branco”, que foi entregue a Bolsonaro em sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019.

O material foi vendido em um estabelecimento especializado na cidade de Miami.

Veja trecho: Cabe ressaltar, que nesta data, MAURO CESAR CID não trouxe o relógio de ouro branco e diamantes, da marca Rolex, que também compunha o referido Kit presenteado ao ex-Presidente pois, conforme já exposto, o relógio foi separado dos demais itens do Kit e encaminhado para a loja Precision Watches na cidade de Willow Grove, no estado americano da Pensilvânia. Até o presente momento da análise parcial dos dados, os diálogos demonstram que a “operação de resgate” envolveu MAURO CID, OSMAR CRIVELATTI e MARCELO CAMARA. No mesmo contexto, MAURO CID sacou a quantia de 35 mil dólares no Banco BB Américas, possivelmente de sua conta bancária, trazendo os recursos em espécie para o Brasil. Ao chegar na cidade de Brasília/DF, possivelmente as joias foram entregues ao Assessor de JAIR BOLSONARO, OSMAR CRIVELATTI, que esperava MAURO CID no aeroporto, e posteriormente devolvidas na Agência da Caixa Econômica Federal.

“Selva”

Conversa de WhatsApp obtida pela Polícia Federal revela que Bolsonaro foi informado diretamente sobre o leilão das joias. Mauro Cid, inclusive, chegou a enviar um link com o leilão de uma das peças. O ex-presidente respondeu: “Selva”.

Segundo a PF, análise do celular do ex-presidente indicam que ele navegou pelas páginas da empresa Fortuna Auction, responsável pelo leilão do KIT OURO ROSÉ.

Bolsonaro pode ser condenado?

A investigação apura se Bolsonaro e ex-assessores desviaram do acervo presidencial peças valiosas presenteadas a ele quando estava em exercício do cargo.

Se for condenado, o ex-presidente pode pegar entre 10 e 32 anos de reclusão pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos (peculato). O caso foi enviado para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde tem como relator o ministro Alexandre de Moraes.

Matéria atualizada as 19:35 horas


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