O crescimento de 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 superou expectativas do mercado, mas não foi o suficiente para retornar o PIB per capita ao valor anterior à pandemia, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.

O PIB per capita é obtido a partir da divisão do resultado nominal do ano pelo total da população do país, servindo como uma forma de medir o nível de renda da população.

Em 2021, o indicador foi de R$ 40.688, registrando uma alta de 3,9% em relação a 2020, quando os efeitos da pandemia geraram um recuo de 4,6%.

Com o resultado, o PIB per capita superou os anos de 2017 e 2018, mas não o de 2019, imediatamente anterior à pandemia. Silvia Matos, autora do levantamento e coordenadora do Boletim de Macroeconomia do Ibre/FGV, projeta um crescimento do PIB em 2022 de 0,6%, e em 2023, de 1,1%.

Caso as projeções se confirmem, o PIB per capita não apenas não cresceria, como corre o risco de recuar 0,1% neste ano. Já em 2023, o resultado levaria a uma leve alta de 0,4%.

Combinando as duas altas, o PIB per capita ainda não chegaria ao patamar pré-pandemia daqui a dois anos, e só superaria o valor de 2019 em 2024, com projeção de crescimento a cada ano em torno de 2% do PIB e 1,5% do per capita, o que Matos considera “um cenário otimista, mas possível”.

Vale ressaltar que, para 2023, há o risco de o crescimento da economia ser ainda menor, devido à “inflação, política monetária e não sabermos quem será o novo governo”. Em 2022, a expectativa já é de estagnação com um cenário de inflação e juros altos, com possível piora pela guerra na Ucrânia.

O valor em 2024 ainda ficaria distante do recorde registrado em 2013, quando o PIB per capita foi de R$ 44.097 considerando os valores de 2021. Pelas projeções de Matos, esse valor só seria superado em 2029, ainda considerando um crescimento de 1,5% a cada ano a partir de 2024.

Para a economista, a possibilidade de retornar ao valor de 2013 ainda no próximo governo, com mandato iniciando em 2023 e encerrando em janeiro de 2027, é “quase impossível”.

A dificuldade está ligada a uma década ruim para o PIB per capita entre 2011 e 2020, quando houve um recuo médio de 0,6% ao ano decorrente das crises econômicas em 2015 e 2020. Foi apenas a segunda década com recuo médio por ano desde a de 1901. Com a base baixa, a recuperação fica mais difícil.

A níveis percentuais, a maior perda foi em 2020, com a pandemia, seguido do recuo de 4,4% no PIB per capita em 2015 e da queda de 4,1% em 2016. A maior alta percentual foi em 2010, quando o indicador subiu 6,5%.