O preço do café deve seguir em alta nas próximas semanas, pelo menos até a colheita da safra deste ano, prevista para abril e maio. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), a elevação nos preços ocorre devido a fatores climáticos adversos e ao aumento do consumo mundial, impulsionado pela entrada da China no mercado consumidor global.

A Abic estima que esse impacto sobre os preços continue por mais dois ou três meses, antes de uma possível estabilização. No entanto, uma queda significativa nos valores só deve ocorrer a partir da safra de 2025. Desde novembro do ano passado, os preços do café vêm registrando aumento tanto no mercado interno quanto no mercado internacional. O Brasil, maior exportador mundial da commodity, responde por quase 40% da produção global, seguido pelo Vietnã (17%) e pela Colômbia.

A produção brasileira foi afetada por eventos climáticos sucessivos. Em 2021, geadas comprometeram cerca de 20% da safra de café arábica. Em 2022, a recuperação não foi suficiente, pois a cultura do café demanda até dois anos para recompor a produtividade. Em 2023, os efeitos do fenômeno El Niño trouxeram estiagens prolongadas e altas temperaturas, enquanto, no final do ano passado, o La Niña gerou chuvas intensas, impactando negativamente as lavouras.

Esse acúmulo de quatro anos de desafios climáticos, aliado ao crescimento da demanda global, explica a escalada dos preços do café”, afirmou Pavel Cardoso, presidente da Abic. Com os impactos na produção, os custos dos produtores aumentaram, levando a um repasse parcial para os consumidores. A indústria registrou aumentos superiores a 200%, dos quais 38% foram repassados ao consumidor.

A alta nos preços também tem reflexo na Bolsa de Nova York, onde os contratos de café arábica atingiram valores históricos, chegando a US$ 3,97 por libra-peso. “A entrada massiva de fundos de investimento e a oferta reduzida potencializaram a valorização do grão. Essa escalada de preços é motivo de reflexão para todo o setor”, destacou Cardoso.

A Abic espera que a safra de 2024 contribua para uma estabilização nos preços, enquanto a safra de 2025 tem potencial para superar a produção recorde de 2020, ampliando a oferta e reduzindo os preços. Até lá, os consumidores devem continuar enfrentando aumentos, pois a indústria ainda repassa os custos elevados da matéria-prima.

A demanda por café segue aquecida no Brasil. Entre novembro de 2023 e outubro de 2024, o consumo interno cresceu 1,11% em relação ao período anterior. O Brasil, além de maior produtor e exportador de café, é o segundo maior consumidor mundial, com 21,916 milhões de sacas consumidas em 2024. Os Estados Unidos lideram o ranking, com 4,1 milhões de sacas a mais que o Brasil.

O faturamento da indústria de café torrado no mercado interno atingiu R$ 36,82 bilhões no último ano, representando um crescimento de 60,85% em relação a 2023, impulsionado pelo aumento dos preços nas prateleiras. No mercado externo, o faturamento foi de R$ 134 milhões.

As categorias premium de café também apresentaram variações expressivas nos preços. Os cafés especiais tiveram aumento de 9,80% entre janeiro e dezembro de 2024. Os cafés gourmets subiram 16,17%, os superiores 34,38%, enquanto os tradicionais e extrafortes registraram alta de 39,36%. Os cafés em cápsula também apresentaram aumento, com variação de 2,07%.

Nos últimos quatro anos, a matéria-prima do café aumentou 224%, enquanto o preço do café no varejo subiu 110%. Em 2023, a variação de preço do café torrado e moído foi de 37,4%, superando a média da cesta básica, que teve alta de 2,7%. Com a produção ainda enfrentando desafios climáticos e o consumo aquecido, o cenário para os próximos meses é de continuidade da alta nos preços.

Foto: Marcello Casal jr /Agência Brasil


Avatar

administrator