A prisão do general da reserva Walter Braga Netto, realizada na manhã deste sábado, 14, não foi uma surpresa para a cúpula do Exército Brasileiro. Desde o indiciamento de 37 pessoas acusadas de envolvimento em atos golpistas, no dia 21 de novembro, oficiais de alta patente já esperavam desdobramentos, incluindo a possibilidade de novas prisões cautelares.

Inicialmente, a orientação do Exército e do Ministério da Defesa era aguardar o oferecimento de denúncias pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Após a formalização das acusações, medidas administrativas poderão ser adotadas contra militares envolvidos, especialmente aqueles na ativa. Entre as punições previstas estão o impedimento de promoções, transferências e a assunção de cargos de destaque.

Logo após a prisão de Braga Netto, o Centro de Comunicação do Exército emitiu uma nota oficial. O comunicado destacou o acompanhamento das diligências determinadas pela Justiça e reafirmou o compromisso da Força com as investigações em curso:

“O Exército vem acompanhando as diligências realizadas por determinação da Justiça e colaborando com as investigações em curso. A Força não se manifesta sobre processos conduzidos por outros órgãos, mantendo uma postura de respeito às instituições da República.”

A detenção de Braga Netto, um general de quatro estrelas, tem implicações significativas para as Forças Armadas. Generais dessa patente, mesmo na reserva, mantêm influência e prestígio dentro do Alto Comando. Por conta da hierarquia militar, o local de prisão do general deve ter uma estrutura adequada e ser comandado por um oficial de patente equivalente, como forma de evitar constrangimentos.

Embora a cúpula do Exército já monitorasse os desdobramentos da investigação, a prisão de Braga Netto representa um impacto negativo para a imagem da instituição. Um oficial de alta patente reconheceu que o caso prolonga uma crise para as Forças Armadas, já que novos fatos continuam surgindo quase diariamente. Além disso, o Comando do Exército ainda não teve acesso integral às informações sobre a conduta de Braga Netto.

O general ganhou notoriedade em 2018, durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, no governo do ex-presidente Michel Temer. Posteriormente, ele ocupou os cargos de ministro da Casa Civil e da Defesa na gestão de Jair Bolsonaro. Em 2022, foi escolhido como vice na chapa de reeleição de Bolsonaro pelo Partido Liberal (PL).

Entre integrantes das Forças Armadas, há o consenso de que o envolvimento político com o governo Bolsonaro trouxe custos elevados para a imagem institucional, não apenas ao Exército, mas também à Marinha. O almirante Almir Garnier, por exemplo, também foi indiciado no inquérito da Polícia Federal.

Oficiais destacam, porém, que Braga Netto já estava afastado das atividades diárias nos quartéis, e as tropas permanecem focadas em seu treinamento e funções institucionais. Atualmente, 25 militares foram indiciados por envolvimento nos atos golpistas, e a prisão de Braga Netto eleva para cinco o número de oficiais do Exército reclusos.

O general foi preso em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, e transferido para a 1ª Divisão do Comando Militar do Leste, também na capital fluminense. Por prerrogativa militar, Braga Netto está em prisão especial, podendo ser mantido em quartéis ou em locais adequados até a conclusão do processo. Caso solicitado por sua defesa e autorizado pela Justiça, ele poderá ser transferido para Brasília.

A prisão cautelar de Braga Netto tem como objetivo evitar interferências nas investigações conduzidas pela Polícia Federal. Segundo os investigadores, o general foi apontado como responsável pelo financiamento de um grupo que pretendia assassinar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Além disso, Braga Netto teria monitorado depoimentos relacionados à delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

A prisão de Braga Netto foi fundamentada por uma série de elementos obtidos pela Polícia Federal, incluindo trocas de mensagens, documentos apreendidos e novos depoimentos de Mauro Cid. Em acordo de delação premiada, Cid afirmou que Braga Netto tentou acessar informações confidenciais de seu depoimento por meio do pai do militar, o general Mauro Lourena Cid.

Durante uma busca na sede do PL, foi encontrado um documento contendo perguntas e respostas sobre o conteúdo da delação de Cid. Segundo o relatório da PF, o material indicava que pessoas próximas a Braga Netto buscavam informações detalhadas sobre os depoimentos do militar, evidenciando tentativas de interferência nas investigações.

Na conclusão do inquérito, a Polícia Federal destacou que Braga Netto desempenhou um papel central no esquema golpista investigado. A tentativa de acessar informações da delação de Mauro Cid foi apontada como uma evidência de obstrução de Justiça. O relatório final indiciou 37 pessoas, incluindo Jair Bolsonaro, Braga Netto e outras figuras-chave do governo anterior.

A prisão de Braga Netto representa um marco na relação entre as Forças Armadas e a política brasileira, expondo os desafios enfrentados pela instituição ao lidar com acusações envolvendo membros de alta patente. À medida que as investigações avançam, o caso reforça a necessidade de maior separação entre a esfera militar e os interesses políticos.

 

Foto: Marcia Foletto