Por Marco Aurélio Carone
A reeleição de Fuad Noman (PSD) como prefeito de Belo Horizonte em 2024 representou mais do que uma vitória local: ela consolidou o PSD como um dos principais protagonistas políticos em Minas Gerais, preparando o terreno para as eleições estaduais de 2026. O partido, liderado nacionalmente por Gilberto Kassab, quase dobrou o número de prefeituras em Minas, passando de 78 em 2020 para 142 neste pleito.
Essa expansão credencia o PSD a novamente lançar um candidato competitivo ao governo estadual. Em 2022, Alexandre Kalil, então filiado ao partido, foi derrotado por Romeu Zema (Novo) ainda no primeiro turno. Agora, os nomes mais cotados para 2026 são o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Enquanto Pacheco adota um estilo político mais discreto, focado na articulação institucional, Silveira é conhecido por sua abordagem combativa, inclusive com críticas diretas ao governador Zema. Ambos têm chances de atrair o apoio de partidos de esquerda, em uma possível aliança semelhante à que garantiu a vitória de Fuad Noman na capital mineira.
Apesar do fortalecimento, o PSD enfrenta desafios internos. Em Minas, o partido integra a base de apoio de Zema na Assembleia Legislativa, mesmo após o governador apoiar adversários do PSD em Belo Horizonte. Para Cássio Soares, presidente estadual do partido, será necessário diálogo para unificar a legenda até 2026.
Outro tema central na eleição será o enfrentamento das dívidas de Minas Gerais, que ultrapassam 165 bilhões de reais com a União. Rodrigo Pacheco tem se destacado ao liderar projetos no Congresso voltados à renegociação dessas dívidas, enquanto o governo Zema iniciou pagamentos em condições melhores, semelhantes ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
Zema já indicou seu sucessor para 2026: o vice-governador Mateus Simões (Novo). Considerado habilidoso na articulação política, Simões recebeu elogios até de opositores, mas carrega o peso de ter articulado o apoio de Zema a dois candidatos derrotados em Belo Horizonte, Mauro Tramonte (Republicanos) e Bruno Engler (PL).
Simões busca consolidar sua imagem como um líder preparado para dar continuidade ao governo Zema, mas enfrentará a concorrência de outros nomes fortes no campo da direita.
Minas Gerais tem visto o surgimento de políticos da direita que utilizam as redes sociais como seu principal capital eleitoral. Entre eles, destacam-se Bruno Engler, o deputado estadual mais votado da história de Minas; Nikolas Ferreira (PL), o deputado federal mais votado do Brasil; e Cleitinho Azevedo (Republicanos), que derrotou Alexandre Silveira para o Senado em 2022.
Nikolas Ferreira, apesar de citado para a disputa ao governo estadual, tende a concorrer novamente à Câmara dos Deputados em 2026. Ele próprio admite que prefere não “queimar cartucho” e enfrenta receios sobre dificuldades para governar caso Lula seja reeleito presidente.
Por outro lado, Cleitinho Azevedo tem sinalizado interesse em disputar o governo de Minas. Seu partido, o Republicanos, dobrou o número de prefeituras no estado, chegando a 83, consolidando-se como a segunda maior força municipal em Minas. Cleitinho, antes resistente à ideia, começou a mudar seu discurso após manifestações de apoio, inclusive de seu irmão Gleidson Azevedo (Novo), prefeito de Divinópolis.
A eleição de 2026 em Minas Gerais será marcada por uma complexa disputa entre forças políticas tradicionais e novas lideranças emergentes. O PSD, fortalecido por sua vitória em Belo Horizonte e sua crescente presença no estado, terá o desafio de unificar suas alas internas e apresentar um candidato capaz de atrair alianças amplas.
No campo governista, Mateus Simões representa a continuidade do governo Zema, com uma plataforma centrada em eficiência administrativa e diálogo político. Já a direita influencer, com nomes como Nikolas e Cleitinho, aposta no apoio popular das redes sociais para consolidar sua força no estado.
Minas Gerais, como o segundo maior colégio eleitoral do país, desempenhará um papel crucial na definição do cenário político nacional. O estado terá a oportunidade de escolher entre modelos políticos distintos, que refletirão diretamente na governança estadual e no equilíbrio de forças no Brasil.
Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal