Após sofrer um duro revés nas eleições municipais de 2024, quando elegeu apenas 273 prefeitos, o PSDB enfrenta o desafio de manter seus três governadores de estado, com foco especial em evitar a saída de Raquel Lyra, de Pernambuco, e Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul. A pressão sobre o partido aumenta diante do assédio de legendas como o PSD, PL e MDB, que veem nos governadores tucanos potenciais reforços políticos para as eleições de 2026.

Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, é o caso mais emblemático. Desde a campanha eleitoral, sua aproximação com o PSD de Gilberto Kassab tem sido notória. Durante o pleito, Raquel apoiou candidatos da legenda em várias cidades, fortalecendo os laços com o partido que hoje lidera em número de prefeituras no Brasil, com 887 municípios.

Embora a governadora afirme que não é momento de discutir mudanças partidárias, sua insatisfação com a oposição automática do PSDB ao governo Lula (PT) é evidente. Além disso, ela reconhece que o enfraquecimento do PSDB limita as condições da sigla de apoiá-la em uma tentativa de reeleição em 2026, especialmente em uma disputa contra o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

“A governadora nunca mencionou a vontade de deixar o partido”, declarou o presidente do PSDB, Marconi Perillo, que a definiu como “grande quadro”. Apesar disso, fontes do partido reconhecem que a ficha de filiação de Raquel ao PSD está praticamente pronta, e há conversas também com o MDB.

Como tentativa de mantê-la, dirigentes tucanos cogitam oferecer a Raquel a candidatura presidencial em 2026. Contudo, interlocutores próximos à governadora descartam essa possibilidade, já que seu foco é disputar a reeleição em Pernambuco.

A situação em Mato Grosso do Sul é igualmente delicada. O PSDB consolidou-se como uma potência regional, elegendo 44 dos 79 prefeitos do estado em 2024, além de contar com três deputados federais. No entanto, tanto o governador Eduardo Riedel quanto o ex-governador Reinaldo Azambuja, que é tesoureiro do PSDB, estão sob forte assédio do PL de Jair Bolsonaro.

De acordo com políticos locais, há um acordo informal para que Riedel, Azambuja e uma grande parte dos prefeitos tucanos migrem em bloco para o PL até 2026. No entanto, aliados de Riedel negam essa possibilidade no momento, afirmando que as conversas são mais rumores do que uma realidade concreta.

“O governador ainda está no comando político da situação e só tomará qualquer decisão no próximo ano”, afirmam pessoas próximas ao chefe do Executivo estadual. Procurado, Riedel não se manifestou.

Marconi Perillo, por sua vez, ressalta a importância de Riedel e Azambuja para o PSDB. “O ex-governador é o tesoureiro nacional do partido e tem nos ajudado na busca por novas lideranças. Seria uma grande surpresa perder qualquer um dos nossos governadores”, disse Perillo.

A debandada de nomes importantes no PSDB não é novidade, mas se intensificou após o desmonte do partido em São Paulo, seu principal reduto histórico. A transição entre João Doria e Rodrigo Garcia culminou na derrota de Garcia no primeiro turno das eleições de 2022, quando Tarcísio de Freitas (Republicanos) venceu Fernando Haddad (PT). Desde então, o PSD tem absorvido boa parte do espólio tucano no estado.

Perillo tem se mostrado irritado com o assédio de Kassab e com o avanço de outros partidos sobre lideranças tucanas. Apesar disso, o presidente do PSDB reafirma a convicção de que a legenda continuará relevante. “Com 10, com 100, com 1.000 ou com milhões, somos um partido com passado, presente e futuro. Não sucumbiremos ao fisiologismo ou ao oportunismo de ocasião”, declarou.

Ele também destacou a rejeição do partido ao radicalismo, tanto de direita quanto de esquerda. “O radicalismo burro é carente de respostas e soluções eficientes às demandas do povo. Continuaremos defendendo nossos valores, mesmo em um cenário de polarização.”

Com a desistência de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, de ser candidato à presidência em 2026, o PSDB enfrenta uma lacuna na definição de sua estratégia nacional. Leite, que foi reeleito em 2022, sinalizou que pode disputar uma vaga ao Senado, deixando em aberto quem representará o partido nas eleições presidenciais.

O PSDB tenta usar essa incerteza como moeda de troca para reter governadores como Raquel Lyra e Eduardo Riedel, mas as dificuldades são evidentes. Enquanto Lyra desponta como forte candidata à reeleição em Pernambuco, Riedel precisará lidar com a influência crescente do bolsonarismo em Mato Grosso do Sul.

Para o PSDB, o momento é crítico. A legenda luta para evitar uma debandada que pode comprometer sua sobrevivência política e relevância nas próximas eleições. A disputa entre manter sua essência e se adaptar às pressões externas será decisiva para o futuro do partido que já ocupou a liderança política no Brasil.

Com informações da Folha de São Paulo.

Foto: Hesíodo Góes/Governo de Pernambuco


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