O psicanalista Christian Dunker comentou o ataque ocorrido ontem em uma escola estadual em Cambé, no norte do Paraná. Ele foi o convidado de hoje do UOL Entrevista, apresentado por Fabíola Cidral e com participação dos colunistas Lúcia Helena e Leonardo Sakamoto.
Dunker criticou o discurso que defende o porte de armas por funcionários em escolas como medida para evitar casos de ataques. Para ele, o problema é estrutural e precisa de soluções amplas, como mudança no discurso sobre violência e o fortalecimento da segurança comunitária ao redor das escolas.
“Parece que esse caminho seria semelhante a ‘vamos dar mais veneno para aquela pessoa que já está envenenada para ver se funciona como antídoto’. Parece completamente equivocado. Quem tentou isso em outros lugares, não deu certo.”
“A gente passou quatro anos produzindo um ódio social contra as escolas. E em 2022 e 2023 começam a ter eventos como esse nas escolas.”
“É muito tentador pensar que esses eventos têm a ver com o discurso de que a violência se combate com a violência, o discurso armamentista, que elegeu o Bolsonaro, que militarizou as escolas, que produziu professores como inimigos de Estado.”
Cobertura midiática
O psicanalista também falou sobre a cobertura da imprensa em casos de ataques em escolas. Segundo ele, é preciso ter cautela com o efeito contágio que esses eventos podem ter através da divulgação da identidade dos autores.
“Por isso a gente insiste: não cubram assim. Pelas pesquisas, a chance de alguém se identificar com o autor nos próximos 13 dias é muito mais alta.”
Transtorno mental
Dunker também comentou a alegação do autor do ataque em Cambé de que teria esquizofrenia. O psicanalista afirmou que a maneira como o transtorno mental é tratado clinicamente é mais relevante para a compreensão do caso do que a mera constatação da presença dele no autor.
“Dois preconceitos que pairam sobre as doenças mentais são que elas estariam ligadas à falta de inteligência e à agressividade ou violência. Não é verdade.”
“Um transtorno mental não cria uma completa irresponsabilização da pessoa, que é outro preconceito.”