Sem opções de candidatos conhecidos para a disputa ao governo de Minas, os partidos do campo de esquerda dão largada na campanha eleitoral sem protagonismo e em busca de alianças com candidatos de centro.

Faltando menos de seis meses para a eleição, apenas o PSOL lançou oficialmente uma candidatura ao Palácio Tiradentes, a professora Lorene Figueiredo. PT, PCdoB e PSB tentam articular alianças com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), que já foi crítico ferrenho da esquerda.

Já o PDT tenta lançar uma candidatura própria, mas também procura aliança com Kalil.

Para o deputado federal Mário Heringer, presidente do PDT em Minas, a dificuldade de surgirem nomes competitivos no campo da esquerda em Minas está ligada ao “hegemonismo do PT”. O parlamentar avalia que os petistas buscam concentrar o poder de decisão entre os progressistas e não abrem espaço para o surgimento de novas lideranças.

Heringer, no entanto, divide certa culpa com outras legendas, que não conseguiram ganhar um espaço próprio.

“A falta de opções está ligada ao hegemonismo do PT durante muitos anos, em Minas e no Brasil. Isso impossibilitou que outros partidos se preparassem. Não por culpa do PT apenas, as outras siglas deveriam ter se preparado. É diante desse quadro que nós, do PDT, estamos tentando reverter essa situação e queremos apresentar um candidato nosso. Mas é difícil congregar a esquerda em um mesmo lado”, avalia Heringer.

O PDT lançou o ex-deputado Miguel Corrêa como pré-candidato, mas ele terá que tentar na Justiça reverter uma decisão da semana passada que o tornou inelegível. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entendeu que houve abuso do poder econômico na campanha ao Senado em 2018, mas Corrêa promete recorrer da decisão.

Alternativa

O PT chegou a considerar a possibilidade de lançar uma candidatura própria ao governo de Minas, e alguns deputados apontaram o prefeito Daniel Sucupira, de Teófilo Otoni, como nome indicado. Porém, lideranças nacionais da sigla avaliaram que o nome não teria força e seria preciso buscar um palanque melhor no Estado.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a defender abertamente a aliança com Kalil, com a condição de que o deputado Reginaldo Lopes (PT) integre a chapa como candidato ao Senado. As conversas seguem entre Kalil e Lula, mas o martelo da parceria não foi batido.

O presidente do PT em Minas, deputado Cristiano Silveira, aponta a aliança com Kalil como a mais forte dentro da sigla neste momento, no entanto os petistas não descartam o lançamento de uma candidatura própria no futuro. “É um cenário que pode ter alterações nos próximos meses e passa pelas definições nacionais e pelas discussões que ainda serão feitas”, diz Silveira.

Eleição passada

Em 2018, eram quatro candidatos de esquerda. O então governador Fernando Pimentel (PT) não conseguiu chegar ao segundo turno, recebendo 23% dos votos. Dirlene Marques, do PSOL, ficou em quinto lugar, com 1,38% dos votos, seguida por João Batista Mares Guia (Rede), que ficou com 0,59% dos votos. Jordano Metalúrgico, do PSTU, ficou em último lugar, com 0,16%.

‘Gestão Pimentel deixou imagem ruim’

A ausência de candidatos protagonistas de esquerda em Minas Gerais está diretamente relacionada à rejeição ao governo Fernando Pimentel. A avaliação é do cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Ranulfo.

Ele ressalta que apenas o PT manteve ao longo da última década uma estrutura política e eleitoral entre as siglas do campo de esquerda no Estado, mas que essa força está hoje concentrada no Poder Legislativo.

“A esquerda perdeu espaço em Minas e não conseguiu renovar suas lideranças. Sem renovar as lideranças, não é possível lançar candidatos fortes aos cargos majoritários.

O PT mantém seu espaço no Legislativo. É um partido com história e tem um grande eleitorado para formar bancadas na Assembleia e na Câmara dos Deputados. Mas não tem mais protagonismo nas disputas majoritárias”, diz Ranulfo.

Os problemas enfrentados na gestão do ex-governador Pimentel explicam o desempenho ruim dos petistas na eleição municipal de 2020 – o número de prefeitos petistas eleitos caiu de 41 para 26 – e a dificuldade no surgimento de lideranças.

Na maior parte da gestão Pimentel, os servidores tiveram salários parcelados, atrasos no pagamento do 13°, e muitos repasses para as prefeituras foram adiados.

“Um dos fatores da queda do PT foi o governo desastroso de Fernando Pimentel, que queimou muito o partido no Estado. O mau desempenho fez com que ele não fosse para o segundo turno, e um governo com uma gestão mal avaliada e imagem ruim deixa prejuízos para as eleições seguintes”, avalia Carlos Ranulfo.

Pimentel nega crise na esquerda

O ex-governador Fernando Pimentel admite que houve desgaste em sua gestão, mas cita como motivos o cenário de crise econômica junto a “armações” contra os principais nomes do PT.

“Governei o Estado em meio à mais grave crise da história recente. Recessão econômica profunda, golpe parlamentar que afastou a presidente Dilma, a absurda prisão do ex-presidente Lula. Tudo isso somado ao déficit orçamentário de quase R$ 8 bilhões herdados do governo anterior e ao cerco judicial montado contra mim pela ‘armação Acrônimo’, do qual só agora, seis anos depois, estou sendo inocentado”, avaliou Pimentel.

Para ele, no entanto, não existe uma crise na esquerda mineira, uma vez que os partidos conseguiram bons resultados no Legislativo.

“Não se sustenta a tese de que a esquerda se enfraqueceu. Não fui reeleito, mas o PT elegeu a maior bancada estadual e federal de toda a sua trajetória, e o presidente Lula lidera, com vantagem significativa, todas as pesquisas eleitorais em MG. Onde a fraqueza? Apresentar ou não candidatos à eleição majoritária tem a ver com a estratégia eleitoral em cada momento, a necessidade de ampliar as alianças e a busca do objetivo principal, que é garantir a vitória de Lula com ampla margem de votos”, avaliou o ex-governador.

Fonte: Jornalista Marcelo da Fonseca


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