O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), afirmou nesta sexta-feira que não se sente preterido após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manifestar apoio à candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), ao governo de Minas Gerais em 2026. Cotado para a disputa, Silveira garantiu que atuará como coordenador da campanha do senador no estado.
“Achei o presidente, como sempre, lúcido. Ele tem musculatura para eleger o próximo governador de Minas Gerais e, naturalmente, escolheu Pacheco para ser nosso candidato: é alguém que tem relevância, profundidade intelectual e liderança”, declarou o ministro.
Apesar do respaldo de Lula, Pacheco tem demonstrado pouco interesse na disputa. Segundo interlocutores, ele cogita se afastar da política em 2027, abrindo espaço para que Silveira se torne o plano B do governo. Entretanto, o ministro enfrenta desafios eleitorais. Sua derrota para Cleitinho (Republicanos) na disputa pelo Senado em 2022, por uma margem de quase seis pontos percentuais, indica que uma eventual candidatura pode reacender o embate com o senador bolsonarista, forte nome da direita para a eleição.
Silveira, no entanto, evita discutir essa possibilidade e mantém o discurso de que Pacheco aceitará o desafio. “Fui o primeiro a lançar Pacheco há mais de dois anos e tenho certeza, como diz o hino nacional, ‘bom filho não foge à luta’. Ele é muito reflexivo, mas não fugirá da responsabilidade. Ele será governador de Minas para que o estado possa se restabelecer. Eu ajudarei a coordenar a campanha dele e do presidente Lula”, afirmou.
Aliados de longa data, Silveira e Pacheco tiveram um período de afastamento nos últimos anos. O ministro iniciou sua trajetória no Senado como assessor do atual presidente da Casa e assumiu o mandato em 2022, após Pacheco articular a ida de Antônio Anastasia para o Tribunal de Contas da União (TCU).
No entanto, divergências sobre o governo federal esfriaram a relação. Enquanto Pacheco mantém um tom institucional nas interações com o Palácio do Planalto, Silveira adota uma defesa enfática da gestão petista, o que gerou ruídos entre os dois.
O apoio público de Lula a Pacheco é visto como uma jogada política estratégica, ocorrendo em meio a atritos entre o governo federal e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Segundo articuladores, a interferência direta no cenário mineiro teria como objetivo provocar o chefe do Executivo estadual.
Silveira, porém, minimizou a questão, dizendo que Lula foi apenas “sincero” ao expressar seu apreço pelo presidente do Senado.
Nas últimas semanas, Romeu Zema intensificou as críticas ao governo federal, principalmente após os vetos de Lula ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). O governador também se ausentou da cerimônia que oficializou a concessão de um trecho da BR-381, irritando integrantes do governo.
As trocas de farpas chegaram ao ápice quando Lula, durante um evento, criticou a postura do governador mineiro.
“Para falar a palavra obrigado tem que ter grandeza, caráter e humildade. Esse acordo das dívidas de Minas Gerais deveria fazer o governador vir aqui me trazer um prêmio, um troféu de primeiro presidente da República que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador ou prefeito por ser contra ou por ser oposição”, afirmou Lula.
Zema, por sua vez, respondeu em uma publicação no X (antigo Twitter), fazendo alusão a juros abusivos cobrados pela União. “Jesus Cristo perdoaria todas as dívidas e jamais cobraria juros abusivos de quem ajuda a construir o Brasil”, escreveu o governador.
Além disso, ao justificar sua ausência no evento da BR-381, Zema ironizou a importância da cerimônia. “Não tenho tempo para eventos burocráticos”, declarou.
O embate entre Lula e Zema reflete a disputa de forças em Minas Gerais, estado estratégico para as eleições de 2026. A movimentação de Pacheco e Silveira dentro do PSD e o alinhamento com o Planalto indicam que o grupo governista busca consolidar uma candidatura forte para enfrentar a direita no estado. Resta saber se Pacheco realmente aceitará a missão ou se o nome de Silveira ganhará força nos próximos meses.
Foto Ricardo Botelho/MME