Por Geraldo Elísio (Repórter)

O episódio do Riocentro é um ato vergonhoso da história brasileira até hoje não solucionado devidamente. Envolve o atentado praticado pela direita quando do golpe de 64 por setores do Exército Brasileiro, com apoio da Polícia Militar, conforme a Wikipédia. Entre os envolvidos, o general Newton Cruz recentemente falecido.

O veículo em que uma das bombas detonou antes da hora matou o sargento EB Guilherme do Rosário, no Riocentro do Rio de Janeiro e feriu gravemente o então capitão Wilson Dias Machado – socorrido pela ex-presidiária Andrea Neves – em 30 de abril de 1981. O objetivo era frear a abertura política.

Resultou na desmoralização das Forças Armadas, enfraquecimento do governo Figueiredo, Campanha das Diretas Já e eleição de Tancredo Neves. Óbvio Nilton Cruz, o Nini esteve diretamente envolvido. Ele a quem Figueiredo sempre dizia parecer muito com Benito Mussolini.

Newton Araújo de Oliveira e Cruz nasceu no Rio de Janeiro em 30 de outubro de 1924 e morreu em 15 de abril de 2022, aos 97 anos de idade. Sendo repórter do Estado de Minas participei da cobertura de várias ações envolvendo o Nini. Em um número de ocasiões foi acusado de crimes cometidos ao longo de sua carreira no Exército. Notadamente a morte do jornalista Alexandre Von Baumgarten, baseado no testemunho do bailarino Claudio Werner Polila e atentado à bomba do Riocentro.

Um truculento falante, eu me lembro de Nini comandando a repressão em Brasília no dia da votação das Diretas-Já, com o seu bastão de comando, “espancando” automóveis de participantes num momento em que nitidamente parecia que a emenda Dante de Oliveira ia vencer, frente às suas tropas, tentando impedir a chegada de grupos do “buzinaço” próximo ao Palácio do Governo.

E pela madrugada, depois do anúncio de que as Diretas-Já haviam sido derrotadas, ele, no comando das suas tropas, aos berros repetidos pelos soldados gritando hip ,hip hurra, enquanto os manifestantes democráticos subiam as vias da Praça dos Três Poderes, em lágrimas.

Outras ocasiões eu o vi no Rio de Janeiro, principalmente por ocasião das acusações do bailarino Polila contra ele. Como assessor de imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Minas Gerais, sempre o escutei negar todas as acusações contra ele, sempre dizendo ter informações envolvendo outras pessoas, porém sem nunca revelar tais nomes.

Morreu prestando o seu último serviço acreditando eu, mantendo em segredo a plêiade de envolvidos em tais falcatruas democráticas. Sempre mantendo, como dizia o presidente João Figueiredo, o ar de Benito Mussolini, que no fundo ele parecia cultivar.