Angela Carrato – jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG

Nos pouco mais de dois meses que faltam para as eleições de 2 de outubro, algumas datas merecem atenção. A primeira é o 5 de agosto, prazo limite para os partidos políticos realizarem convenções, lançarem candidatos e firmarem alianças. A segunda é o 7 de setembro, quando o Brasil deveria, se estivéssemos vivendo em situação normal, comemorar o bicentenário da Independência. E a terceira, o 29 de agosto, quando tem início a propaganda eleitoral no rádio e na TV.

O 5 de agosto definirá o panorama da disputa eleitoral em estados importantes como Minas Gerais. Aqui o governador Romeu Zema, candidato à reeleição, se debate com uma questão elementar: ter ou não o apoio de Bolsonaro. Depois de uma gestão ligada ao que há de pior e, na maior parte do tempo em cima do muro, ele precisará se definir. O problema é que Bolsonaro está se transformando em “bode de bicheira” e o seu adversário, o ex-prefeito de Beagá, Alexandre Kalil, já tem o apoio do ex-presidente Lula, cujas chances de vencer as eleições no primeiro turno são cada dia maiores.

Outro que precisará resolver a vida é o tucano Aécio Neves. Claro que ele gostaria de disputar o Senado, mas teme que a crescente onda Lula o derrote. E ficar sem foro privilegiado é algo que não passa pela sua cabeça.

Quanto ao 7 de setembro, a aposta de Bolsonaro era de transformá-lo numa demonstração de força ou mesmo em prévia do seu golpismo explícito e o de sua turma envolvendo as urnas eletrônicas. Mas ele não contava com as reações contrárias de praticamente todos os setores nacionais e internacionais.

O sucesso da Carta aos Brasileiros em defesa da democracia está conseguindo a proeza de reunir esquerda, intelectuais, artistas, gente comum, empresários e banqueiros. Quanto aos militares, depois do puxão de orelhas de Washington, a conversa mudou completamente de tom. Some-se a isso que Trump, pelo estímulo à invasão do Capitólio, pode acabar preso.

Daí a pergunta: com quem Bolsonaro daria um golpe, na realidade um autogolpe? Com as milícias? Com as Polícias Militares? Com o bando de facistóides que ainda o seguem?

Risco sempre existe, mas a ficha parece estar começando a cair para Bolsonaro e sua turma. Tanto que setores do famigerado “Centrão” lançaram o balão de ensaio do senador vitalício, uma solução para garantir que, fora do poder, Bolsonaro não vá para a cadeia.

Numa democracia, absurdos deste tipo não prosperariam. Como no Brasil as instituições andam funcionando apenas para alguns, tudo pode acontecer.

A existência de ideias deste tipo entre os integrantes da cúpula bolsonarista demonstra como é crescente o medo e a preocupação deles. Se antes tinham certeza que o “pacote de bondades” mudaria o cenário das eleições, quebraram a cara e lamentavelmente continuam destruindo a economia brasileira sem qualquer alteração nos resultados das pesquisas eleitorais.

Aliás, cadê a mídia corporativa que não fala mais em teto de gastos e esconde a pedalada gigante de Bolsonaro? Pelo visto, esses assuntos valiam só contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Bolsonaro, mesmo enchendo a mídia de dinheiro, segue num distante segundo lugar em relação à Lula. Ciro Gomes está estacionado, num longínquo terceiro lugar, assistindo aos seus apoiadores admitirem que podem votar em Lula já no primeiro turno. Enquanto isso, a Simone “terceira via” Tebet, patrocinada pelos irmãos Marinho, patina nos 2%.

Por isso, a outra aguardada data nesta campanha eleitoral é o 29 de agosto, com o início da propaganda no rádio e na TV. Os bolsonaristas, que sempre apostam nas fake news, acreditam que investindo na pauta de costumes ultra conservadora podem alcançar sucesso. Difícil enganar as pessoas duas vezes, especialmente num quadro marcado pela volta da fome, do desprego e da miséria para amplos contingentes da população brasileira.

Difícil, também, porque até a ficha dos empresários caiu: não há futuro para um país deste tamanho baseado apenas na reprimarização da economia.

Assim, a campanha eleitoral vai assumindo, cada dia mais, feição plebiscitária: voto na mudança para melhor ou na manutenção desta desgraceira geral.

Você decide!