Ainda hoje atingidos de Brumadinho aguardam para acessar única parte do acordo efetivamente destina à reparação.
No âmbito criminal, ninguém sequer foi responsabilizado e presidente da Vale tenta habeas corpus para se livrar de julgamento.
25 de janeiro é dia de luta e luto pelas 272 vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Um crime reincidente e que poderia ter sido evitado se o rompimento de barragens de rejeitos no Brasil não se mantivesse sob impunidade.
Em 2015, a Vale, Samarco e BHP Billiton já haviam protagonizado um crime socioambiental de magnitude extrema, que matou 19 pessoas e deixou um rastro de destruição na vida de mais de 1 milhão de atingidos em Minas e Espírito Santo. Mas a impunidade prevaleceu.
Nesta semana, o delegado da Polícia Federal (PF), Cristiano Campidelli, responsável pela investigação do caso, afirmou que a Vale mentiu para seus trabalhadores sobre a possibilidade de fuga diante de um rompimento.
“Foi dito que se a sirene tocasse, elas poderiam caminhar calmamente até o ponto de encontro, por 8, 10, 15 minutos. Mas a Vale sabia que a sirene não funcionava e sabia que essas pessoas teriam menos de um minuto para se autossalvar. Então essas pessoas morreram porque elas foram enganadas. A Vale cometeu homicídios e tornou impossível a defesa das vítimas”, esclareceu o investigador durante um seminário realizado nesta segunda (22) pelos familiares das vítimas.
Enquanto a Justiça julga o pedido de habeas corpus do presidente da Vale à época do rompimento, Fábio Schvartsman, para se retirar do processo criminal que o indicia como réu – juntamente com outras dez pessoas – pelo homicídio em Brumadinho, para os atingidos na Bacia do Paraopeba e Três Maria, a justiça tarda.
“O povo não tem dinheiro para viver e quem recebe algum auxílio da Fundação Getúlio Vargas [entidade responsável pelo gerenciamento dos auxílios emergenciais], gasta tudo comprando água potável e remédio, porque está todo mundo doente. Enquanto isso, o Zema fez rifa com o dinheiro dos atingidos” desabafa a atingida Joelisia Feitosa, moradora de Juatuba.
Liderança popular, Joelisia conta que a maioria dos moradores da Bacia do Paraopeba e Três Marias, território atingido pelo rompimento em Brumadinho, enfrentam dificuldades para retomar a vida, mesmo após três anos do acordo de reparação firmado entre o governo de Minas Gerais e a Vale.
Apesar do Acordo – firmado em 2021 a portas fechadas e sem a participação das vítimas – ter sido na cifra de R$37 bilhões, apenas R$3 foram efetivamente destinados para recuperação da saúde, moradia e retomada econômica das famílias. O direito está previsto no chamado Anexo 1.1, um adendo feito ao acordo inicial, após inúmeras manifestações e protestos dos atingidos que exigiam participação na reparação.
O Anexo prevê a criação de projetos de desenvolvimento socioeconômico e linhas de crédito aos atingidos, visando a geração de emprego e renda. No entanto, sua execução ainda está lenta. Apesar da morosidade das instituições de Justiça, os atingidos mantêm esperança na conquista dessa reparação coletiva. “Nós não vamos abrir mão do Anexo 1.1 porque ele é a única parte dentro desse Acordo que realmente vai garantir o protagonismo e a segurança para os atingidos”, ressalta Feitosa.
Programação
25/01
10h Ato e celebração ecumênica em memória das 272 jóias
Local: Letreiro de Brumadinho
11H Ato e celebração ecumênica em memória das 272 jóias
Local: Córrego do Feijão
26/01
9h Ato em memória das 272 joias
Local: Ponte da Colônia Santa Izabel – Citrolândia (Betim)
Foto: MAB