Pela terceira vez consecutiva, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi derrotada na disputa pelo comando da Rede Sustentabilidade. Durante o 6º Congresso Nacional do partido, realizado neste fim de semana em Brasília, o grupo liderado por Heloísa Helena saiu vitorioso com a eleição de Paulo Lamac, atual secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, como novo porta-voz nacional da legenda.
Lamac venceu a disputa com ampla margem: sua chapa, “Rede pela Base”, obteve 76% dos votos dos delegados, enquanto “Rede Vive”, apoiada por Marina, alcançou apenas 24%. Em entrevista após a confirmação do resultado, Lamac afirmou assumir a função com “grande responsabilidade” e ressaltou o compromisso de promover a união dentro da legenda, que vive um período de intensas disputas internas. “Essas questões internas são menores diante do trabalho da Rede e das bandeiras que defendemos”, declarou.
O período que antecedeu o congresso foi marcado por tensões. A ala ligada à ministra tentou judicializar o processo eleitoral, solicitando sua suspensão por meio de liminar, que acabou derrubada na véspera do evento. A tentativa de barrar a votação não surtiu efeito, e o resultado ampliou a percepção de perda de influência de Marina dentro do partido que ajudou a fundar.
Nos últimos meses, o partido passou por embates judiciais em pelo menos cinco estados — Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul — onde apoiadores da ministra apontaram irregularidades em convenções e filiações supostamente feitas sem consentimento. O caso mais simbólico ocorreu na Bahia, onde duas convenções foram realizadas simultaneamente por alas rivais, com direito a troca de acusações e manifestações públicas de hostilidade.
A disputa entre Marina Silva e Heloísa Helena revela uma divisão ideológica profunda no partido. De um lado, Marina defende uma linha “sustentabilista progressista”, que busca equilibrar preservação ambiental e desenvolvimento econômico. Do outro, Heloísa representa a ala do “ecossocialismo”, que propõe uma transformação estrutural do sistema econômico como resposta à crise ambiental.
Outro ponto de tensão entre os grupos é a relação com o governo federal. Marina integra o atual governo como ministra do Meio Ambiente, enquanto Heloísa adota postura crítica ao Palácio do Planalto desde sua saída do PT em 2003, após discordar da reforma da Previdência proposta no primeiro mandato do presidente Lula.
Durante o congresso, essas divergências ficaram ainda mais evidentes. Militantes da chapa vencedora entoaram palavras de ordem como “A Rede que eu quero não votou no Aécio”, em referência ao apoio de Marina a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição presidencial de 2014, após não ter avançado com sua candidatura lançada pelo PSB. Já apoiadores de Marina responderam com o grito “Glauber fica”, em apoio ao deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que enfrenta processo de cassação e cuja suplente é justamente Heloísa Helena.
A entrada de Heloísa na Rede, em 2015, e sua eleição como porta-voz em 2021 marcaram o fortalecimento da ala mais à esquerda no partido. Desde então, as divergências com Marina, principalmente em relação ao papel da Rede dentro do governo e à estratégia política, se intensificaram. Agora, com a vitória de Paulo Lamac, o grupo de Heloísa Helena consolida sua liderança interna e redefine os rumos da legenda. A derrota de Marina simboliza não apenas uma mudança na correlação de forças, mas também um novo capítulo na trajetória de um partido que nasceu da pauta ambiental, mas que enfrenta crescentes disputas por sua identidade política.
Foto: Divulgação/ Rede
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