O dia 25 de janeiro de 2019, quando a barragem da Vale em Brumadinho se rompeu, deixou uma marca indelével nos 26 municípios que compõem a bacia do rio Paraopeba, em Minas Gerais. Cinco anos após o maior crime ambiental e trabalhista do país, muitos atingidos ainda não testemunharam efetivamente as prometidas medidas humanitárias e socioeconômicas de reparação, tanto para obras de infraestrutura urbana quanto para reparos socioambientais, anunciados pela própria Vale.

No último mês de dezembro, a empresa veiculou uma matéria paga na editoria UOL Content Lab, do UOL, divulgando a conclusão de 64% do Acordo de Reparação Integral. No entanto, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) classificou tal notícia como “propaganda mentirosa”. Enquanto a Vale alega avanços na restauração da vegetação e na qualidade das águas do rio Paraopeba, o MAB contesta, apontando concentrações de metais acima do permitido e revelações de pesquisa sobre a presença de contaminantes intoleráveis nos peixes da região.

Fernanda Portes, integrante da coordenação do MAB, destaca que os impactos persistem, especialmente após as enchentes de 2022, que trouxeram de volta a lama às comunidades afetadas. A reparação, segundo ela, não se resume a plantar árvores ou apresentar resultados de amostras duvidosas, mas sim a garantir a confiança dos afetados em estudos independentes e confiáveis.

Após o desastre, a Vale afirma ter pago cerca de R$ 3,5 bilhões em acordos de indenização. No entanto, o MAB argumenta que 132.094 pessoas na Bacia do Paraopeba fazem parte do Programa de Transferência de Renda, indicando uma realidade distante dos números apresentados pela mineradora. A falta de participação popular nas decisões e a limitação sobre quem são considerados os atingidos também são apontadas como fatores de vulnerabilidade.

A Vale destaca investimentos em ações de reparação e na descaracterização de barragens para evitar futuras catástrofes. No entanto, o MAB destaca que, até o momento, apenas sete das 30 operações previstas foram concluídas. Além disso, os atingidos lamentam a falta de condenações criminais para os responsáveis, mesmo após cinco anos do desastre.

Com o julgamento pendente e a possibilidade de habeas corpus para Fábio Schvartsman, ex-presidente da Vale, os atingidos expressam temores de que a impunidade prevaleça. Para eles, a verdadeira reparação só ocorrerá com a participação dos afetados nas decisões de reparação e justiça, e não apenas com pronunciamentos da Vale.


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