Por Clayton Castelani

Principal segmento da Bolsa de Valores brasileira, o setor que concentra empresas produtoras de materiais básicos foi impulsionado nesta quarta-feira (2) pela valorização do petróleo, do aço e do minério de ferro no mercado internacional. A elevação nos preços é consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia.

O Ibovespa subiu 1,80%, a 115.173 pontos. O índice de referência do mercado acionário do país se apoiou principalmente nas altas de 7,99% da mineradora Vale e de 1,97% da Petrobras. Essas são as empresas com maior peso na Bolsa.

Outras produtoras de commodities também foram responsáveis por turbinar o Ibovespa. Entre as petroleiras, a 3R Petroleum disparou 12,93%. A PetroRio saltou 9,02%. No ramo siderúrgico, CSN e Gerdau subiram 8,09% e 6,89%, nessa ordem.

Expectativas de ganhos com ações ligadas às commodities mantinham a Bolsa do Brasil atraente para investidores estrangeiros, o que significou mais dólares entrando no país. Esse movimento fez a moeda americana recuar 0,91%, a R$ 5,1080. A queda ocorreu depois da divisa ter subido mais de 1% na abertura do pregão, quando havia passado dos R$ 5,20.

Oscilações nos mercados de câmbio e de ações eram esperadas após a interrupção por dois dias das negociações na B3, a Bolsa de Valores do Brasil, devido ao Carnaval. Nesse intervalo, investidores globais continuaram a avaliar os efeitos econômicos das sanções impostas pelo Ocidente à Rússia.

O conflito Rússia-Ucrânia tem feito disparar os preços de algumas das principais matérias-primas produzidas também por empresas brasileiras.

Contratos futuros de aço negociados na China, maior produtor mundial do produto, subiram para uma máxima de mais de duas semanas nesta quarta. Há expectativas de que a guerra aumente a demanda por aço no exterior.

O preço do petróleo refletia o impacto do endurecimento das sanções contra a Rússia. O barril do Brent, referência mundial, subia 8,50% no final da tarde, a US$ 113,89 (R$ 584,72). Era a maior cotação da commodity desde junho de 2014.

“Petrobras e Vale são as empresas com maior peso no Ibovespa, e estão no negócio de petróleo e minério de ferro, respectivamente. Todas as principais commodities do mundo estão subindo de preço devido ao conflito”, comentou o analista de investimentos Rob Correa.

Em relatório desta quarta, estrategistas do Citi afirmaram que, sob o ângulo da alta das commodities, é possível que moedas de países latino-americanos tenham desempenho superior ao de seus pares emergentes em meio à guerra na Ucrânia.

Os principais mercados de ações dos Estados Unidos e da Europa fecharam em alta nesta quarta, enquanto os índices mais importantes da Ásia caíram.

Em Nova York, o indicador de referência S&P 500 subiu 1,86%. Companhias de grande valor contribuíram significativamente para o fechamento no azul do mercado americano, revela a alta de 1,79% do Dow Jones.

A Nasdaq, bolsa que concentra empresas do setor de tecnologia com maior potencial de crescimento, avançou 1,62%.

Além de monitorar o noticiário geopolítico, investidores também reagiam a comentários do presidente do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, que indicou nesta quarta que o Federal Reserve segue no caminho de elevar os juros, apesar das tensões geopolíticas.

Powell disse que está inclinado a apoiar um aumento de 0,25 ponto percentual na reunião de política monetária de março, mas afirmou que o Fed está preparado para agir de forma mais agressiva posteriormente se a inflação não diminuir conforme o esperado.

Antes do início da guerra, porém, o mercado contava com um aumento de 0,5 ponto percentual devido à pressão gerada pela maior inflação em 40 anos.

Custos mais altos nos empréstimos tendem a desvalorizar empresas que dependem de crédito, como é o caso das companhias com maior potencial de crescimento listadas na Nasdaq.

A Bolsa de Tóquio recuou 1,68%. Hong Kong caiu 1,84%. O principal índice de ações das empresas chinesas de Xangai e Shenzhen cedeu 0,89%.

Na Europa, os mercados de Londres, Paris e Frankfurt fecharam com altas de 1,36%, 1,59%, e 0,69%, respectivamente. A Bolsa de Moscou não abriu pelo terceiro dia nesta semana.

Houve desvalorização histórica da moeda da Rússia nesta quarta e cada dólar americano chegou a valer 110 rublos russos, segundo a Reuters. Em uma cesta de 24 moedas emergentes, o rublo também ficou com o pior retorno frente ao dólar, entregando uma perda de 6,4% no dia, de acordo com dados da Bloomberg.

Com grande parte das reservas de US$ 640 bilhões de Moscou detidas no Ocidente e sanções atrapalhando o fluxo de capital entre fronteiras, investidores temem que a Rússia esteja se encaminhando para seu primeiro calote de dívida soberana em moeda forte.

Nesta quarta, investidores estrangeiros estavam efetivamente presos com suas posições em títulos denominados em rublos -conhecidos como OFZs- após o banco central russo interromper temporariamente o pagamento de cupons e o sistema de liquidação Euroclear parar de aceitar ativos russos.

Um calote da dívida em rublo tem precedentes -Moscou renegou as OFZs durante sua crise financeira de 1998, mas mesmo naquela ocasião manteve o pagamento dos títulos em dólar. Antes das últimas sanções devastadoras do Ocidente que congelaram ativos do banco central, um default desse tipo não estava no radar de ninguém.

O JP Morgan e a associação global de bancos IFI (Instituto de Finança Internacional) alertaram que há um crescimento significativo do risco de que a Rússia possa estar se dirigindo para seu primeiro calote de dívida externa.

Fonte: Folhapress


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