Durante uma viagem a Nova York em setembro de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmando que seu governo havia “extirpado a corrupção sistêmica” no Brasil. No discurso, ele também mencionou: “No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no País. Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político e desvios chegou a casa dos US$ 170 bilhões de dólares. O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade.”
A PF estimou perdas de R$ 42,8 bilhões devido a irregularidades investigadas pela Lava Jato.
Contudo, durante o mesmo período da viagem, Bolsonaro recebeu um repasse de dinheiro oriundo da venda ilegal de joias, segundo a Polícia Federal (PF). De acordo com a PF, o ex-presidente recebeu cerca de 30 mil dólares do general Mauro César Lourena Cid em um hotel de luxo na cidade americana. Bolsonaro foi indiciado por três crimes pela PF no último dia 4. A defesa de Bolsonaro negou que o repasse tenha ocorrido, e a defesa do general Mauro César Lourena Cid não respondeu aos questionamentos.
O relatório final da PF sobre a venda ilegal de joias, revelado pelo Estadão, indica que Bolsonaro se encontrou com Lourena Cid no mesmo dia do discurso na ONU. Em depoimento, Lourena Cid admitiu ter repassado cerca de 30 mil dólares da venda ilegal de joias a Bolsonaro no Omni Berkshire Place, um hotel de luxo em Manhattan. Os repasses foram feitos de forma fracionada, conforme a disponibilidade de encontros com Bolsonaro.
Além de Bolsonaro, outras pessoas foram indiciadas pela PF, incluindo Lourena Cid, seu filho, o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, e mais nove pessoas, entre elas dois ex-ministros: Fabio Wajngarten e Bento Albuquerque. Os indiciamentos abrangem crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Se condenado, Bolsonaro pode pegar de 10 a 32 anos de prisão.
No último dia 8, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes deu um prazo de 15 dias para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se pronuncie sobre um possível oferecimento de denúncia contra os investigados. O Ministério Público Federal (MPF) decidirá se apresenta uma acusação formal à Justiça, o que pode levar à abertura de uma ação penal no Supremo. O MPF também pode solicitar mais investigações ou arquivar o caso.
Por sua parte, Fabio Wajngarten se defendeu nas redes sociais, afirmando que seu indiciamento é abusivo e que ele apenas cumpriu a lei em sua atuação como advogado.